domingo, abril 30, 2006

VOCÊ PRECISA SER SURDO.....

Você precisa de ser surdo para entender!

Como é "ouvir" uma mão? Você precisa ser surdo para entender! O que é ser uma pequena criança na escola, numa sala sem som com um professor que fala, fala e fala e, então quando ele vem perto de você ele espera que você saiba o que ele disse? Você precisa ser surdo para entender! Ou o professor que pensa que para torná-lo inteligente você deve, primeiro, aprender como falar com sua voz assim colocando as mãos no seu rosto por horas e horas sem paciência ou fim até sair algo indistinto assemelhado ao som? Você precisa ser surdo para entender! Como é ser curioso na ânsia por conhecimento própriocom um desejo interno que está em chamas e você pede a um irmão, irmã e amigo que respondendo lhe diz: "Não importa"? Você precisa ser surdo para entender! Como é estar de castigo num canto embora não tenha feio realmente nada de errado a não ser tentar fazer uso das mãos para comunicar a um colega silencioso um pensamento que vem, de repente, a sua mente? Você precisa ser surdo para entender! Como é ter alguém a gritar pensando que irá ajudá-lo a ouvir ou não entender as palavras de um amigo que está tentando tornar a piada mais clara e você não pega o fio da meada porque ele falhou? Você precisa ser surdo para entender! Como é quando riem na sua face quando você tenta repetir o que foi dito somente para estar seguro que você entendeu e você descobre que as palavras foram mal entendidas? E você quer gritar alto: "Por favor, me ajude, amigo! Você precisa ser surdo para entender! Como é ter que depender de alguém que pode ouvir para telefonar a um amigo ou marcar um encontro de negócios e ser forçado a repetir o que é pessoal e, então, descobrir que seu recado não foi bem transmitido? Você precisa ser surdo para entender! Como é ser surdo e sozinho em companhia dos que podem ouvir e você somente tenta adivinhar pois não há ninguém lá com uma mão ajudadora enquanto você tenta acompanhar as palavras e a musica? Você precisa ser surdo para entender! Como é estar na estrada da vida encontrar com um estranho que abre a sua boca e fala alto uma frase a passos rápidos e você não pode entendê-lo e olhar seu rosto porque é difícil e você não o acompanha? Você precisa ser surdo para entender! Como é compreender alguns dados ligeiros que descrevem a cena e fazem você sorrir e sentir-se sereno com a "palavra falada' de mão em movimento que torna você parte deste mundo tão amplo?


Autores: Willerd e Madsen

sábado, abril 29, 2006

RUTILA O SOL...

Soneto

Rutila o sol na imaculada esfera !
No ar transparente, o amor e a formosura
Trocam beijos, nos estos da ventura,
Aos puníceos clarões da primavera !

Vestem o tronco anoso as folhas d'hera !
Já canta a prole doirada na espessura.
Tudo tem alma ! a humana criatura,
A pedra bruta, a pomba, a besta fera !

Fez-se um milagre em mim ! Ressurjo nos dias
Das juvenis, das santas alegrias !
Deito um furtivo olhar ao meu espelho ?...

Na festa trinial, a mocidade
Traz-me rosas a flux ! E sem piedade,
O maldito a dizer-me que estou velho !

Bulhão Pato

quinta-feira, abril 27, 2006

FUMO

FUMO

O fumo é a grafia com que escreve
A mão devaneadora da quimera
No seu estilo curvilíneo, leve,
E vário como um céu de primavera.

Eu dela (quem melhor a compreendera!)
Entendo só algum dizer mais breve...
Gente há que a compreende e a considera
Clara como o luar em chão de neve.

São os alheados, os que vão sonhando
Ininterruptamente, mesmo quando
Os chicoteia o maximo tormento,

Os que já sem remédio, ainda esperam,
Os felizes da desgraça, _ os que souberam
Por toda a sua fé num sentimento!...

Augusto Gil

quarta-feira, abril 26, 2006

TEIAS DE ARANHA

Teias de aranha

Tenho aqui perto uma aranha,
Que trabalha noite e dia,
Com industriosa manha,
Na sua teia luzidia.

Quanta vez tenho evitado
Que a vassoura irreverente
Varra o Paço rendilhado
Da pobre aranha inocente!

É que penso, que o insecto
Talvez adore o seu ninho,
Com o mesmo entranhado afecto
Que eu dedico ao meu cantinho.


Conde de Sabugosa

segunda-feira, abril 24, 2006

ANOITECENDO

ANOITECENDO

Silencio ! Tangem sinos. São Trindades.
O sol vai pouco a pouco enfraquecendo,
Sulcado de violetas e saudades...
Avé-Maria ! Vem anoitecendo...

Esp'ranças, ambições, alacridades,
Nos poentes da vida esmacendo,
Nem o sol lhes empresta as claridades
Dos lampejos que, ao longe, vão morrendo.

Porque a noite aproxima-se rezando,
E o luar, melancólico, sonhando
Com tristezas da eterna escuridão...

Mas a alma, que vence se ilumina,
Que lhe importa, no Além da luz divina,
Que na terra enregele um coração!...

D. Lutgarda de Caires

sábado, abril 22, 2006

CEREBRO E CORAÇÃO

CEREBRO E CORAÇÃO

Dizia o coração: «Eternamente,
Eternamente há-de reinar agora
Esta dos sonhos teus nova senhora,
Senhora de tu'alma impenitente».

E o cérebro zombando: «Brevemente,
Como as outras se foram, mar em fóra,
Ela se há-de sumir, se há-de ir embora,
Esquecida também, também ausente».

De novo o coração: «Desce! vem vê-la!
Dize, já viste tão divina estrêla
No firmamento de tu'alma escura?»

E o cérebro por fim: _«Tôdas o eram...
Tôdas... e um dia sem amor morreram,
Como morre, afinal, tôda a ventura!»

Medeiros e Albuquerque (brasileiro)

(texto transcrito, tal qual a grafia original)

A MAIOR MÁGUA

A MAIOR MÁGUA

Cá dentro da minh'alma de mulher,
Alma feita de sonho e de incerteza,
Sedenta de afeição e de beleza,
Quantas coisas sonhei p'ra te dizer!...

Quantas coisas sonhei p'ra te escrever!...
Jámais mulher alguma, com certeza,
Cantou com tanto amor, tanta tristeza,
O bem que desejou sem nunca o ter!...

Porque a chaga mais viva, que mais dói,
Não é saudade do que a vida foi...
Ninguém nos rouba um dôce bem vivido.

A mágua do que foi é suportável;
É bem mais funda a mágua irreparável
Daquilo que pudéra, enfim ter sido!...


Marta de Mesquita da Camara

(Transcrito conforme o original)

quinta-feira, abril 20, 2006

GRAVEMENTE

Gravemente __ qual quem, estando atento
somente ao peso de si próprio a estar,
acaso esboce um ar de movimento
sem se mover a gravidade e o ar __,

gravemente se sente o seu assento
infalível de luz e de lugar.
Ou, qual se a luz lhe fosse nascimento,
assenta nela a inclinação de estar.

Ou diríamos dele que o volume,
se debruçando ao centro da atenção,
alimenta na curva o próprio lume

com que pesa na sua solidão
__ lugar indivisível que se assume
violência de paz. E coração.

Fernando Echevarría

terça-feira, abril 18, 2006

O MOINHO DO LOBO


O Moinho do Lobo! Eis um nome que evoca
A trágica visão de hirsuta e cruel fera,
Tanto espreitando a presa em sua escura toca,
Como tingindo em sangue a garra que lacera.

A avózinha, enredando em alvo linho a roca,
Fala ao neto, florindo em plena primavera,
Do lobo mau, que em ais os doces uivos troca
Como um algoz, que a dor ardendo em fogo gera.

É o terrível papão, que o medo e o asco inspira
«Lá vem o lobo» pensa a criançada inquieta,
O lobo que à traição, os meninos devora.

Mas aqui, Santo Deus! No ar vibra uma lira,
O antro é um paraíso e o lobo é um poeta
Que canta como Pã, pelos lábios da aurora.

Pontével, Agosto de 1999

Correio do Ribatejo 19/01/2001 pag 6
O eterno

segunda-feira, abril 17, 2006

INTERESSANTE

INTERESSANTE

A criação deste blog foi consequência de um convite amistoso para um almoço. Tudo aconteceu, como os parceiros intervenientes tinham blog’s, eu achei-me na necessidade de também criar um.
Só que na altura não o sabia fazer, nem o que escrever. Optei por poesia, poesia portuguesa, poesia de todo o mundo.
Adoro os nossos consagrados da poesia, aqueles que por mérito próprio estão nos píncaros da ‘fama’.
No entanto tenho tentado divulgar, autores menos conhecidos, mas cujo mérito é idêntico ao dos, que por motivos que não interessa explanar, ou tentar compreender, não atingiram a cúpula da projecção.
Tenho que alterar o método de publicar, isto é, alterar entre poesias e outras coisas, que de momento ainda não estão bem definidas.
Gosto muito de palavras, palavras sem sentido, palavras desconexas, simplesmente palavras.
Um dia destes será o cansaço, e então o abandono do blog (direi da página).
Não sei porquê, não gosto da palavra “blog”.
Pancadas, também não gostei do mapa cor-de-rosa, não gostei da usurpação de Olivença. E não gosto que as pessoas sejam infelizes. Queria todo o mundo feliz. Se fosse omnipotente faria a felicidade para todos.
“Tenho dito”
Ah, brevemente quero colocar receitas, receitas da minha mãe, não que eu tenha vocação para cozinheiro (pasteleiro), mas às vezes era obrigado (persuadido) a ajudá-la, e, pela força das circunstâncias, alguma coisa fui aprendendo.

O viajante

ENTARDECER

ENTARDECER

Na tarde morna, pelo céu em festa,
Perpassa um grito, que se perde longe...
Há mil perfumes de tomilho e giesta,
E o monte enverga seu burel de monge.

Uma após outra, as irmãs estrelas
Abrem, muito alto, como olhitos piscos,...
Bailam cantigas, pelo ar, singelas,
e o gado manso, torna aos seus apriscos.

Pela janela francamente aberta
Coam-se vozes _ rezas de humildades _
Descem perfumes de malvaísco em flor...

Mas tudo cala (só o amor desperta),
Quando na torre batem as Trindades...
Hora divina de saudade e amor!...


J. de Castro

O CÃO E A PRESA


O CÃO E A PRESA

Um cão apanha um coelho,
À margem duma ribeira;
Mas, vendo-o naquele espelho,
Larga-o, salta a ribanceira,
E assim perde o que levava,
E mais o que ambicionava!

Abençoada prudencia!
(E esta a moralidade)
quantos, pela aparencia,
Perdem a realidade!

João de Deus

domingo, abril 16, 2006

O ROUXINOL E A CIGARRA

o rouxinol e a cigarra

Nas horas de calma ardente
um rouxinol sonoroso
doces gorgeios soltava
sobre um loureiro frondoso.

Dois pastores que defronte
à sombra estavam sentados
seu grato cantico ouviram,
embebidos e encantados.

Eis cigarra presunçosa,
que a leda cena observava,
pousou no extremo do ramo
onde o rouxinol cantava.

E, de ímpia inveja mordida,
lhe diz: __«Teimoso, sossega,
que das aves importunas
és a maior cega-rega.

Incessante, dia e noite,
atroas todo este prado;
com teus dissonantes guinchos
tens-me os ouvidos quebrado.

Atento um pouco me escuta,
se cantar melhor pretendes,
que, inda que tens a voz rouca,
ao menos o estilo aprendes».

O doce musico alado,
sem dar assenso á inveja,
prosseguiu com mais doçura
na cantilena saudosa.

Ela, então, por ver se acaso
o turbava e confundia,
a cantiga estrugidora
fervorosa principia.

Um dos pastores, irado
contra a louca impertinente,
diz: __«Aguarda, toma o prémio
de cantiga tão cadente».

Ergueu-se e com mão tão certa
lhe atira uma torroada,
que a malfadada cantora
caiu por terra esmagada.

Se a inveja assim castigassem,
não seriam turbadoras
dos rouxinóis do Parnaso
cigarras estrugidoras.

Belchior Curvo Semedo
(Montemor-o-Novo 1766/1838)

TERNURA


Ternura

Meu Amor! Meu Amado! Meu Tesoiro!
Minha chave do Céu e do Inferno!
De tudo o que é mortal e que é eterno,
De tudo o que é fugaz e imorredoiro...

Meu Amor! Meu Amado! Meu Tesoiro!
Minha chuva de Verão! Meu sol de Inverno!
Que importa, Amor, agora, o mundo externo,
Se presos tenho aos meus teus olhos de oiro?

A Vida... A Morte... O que há-de vir depois...
Amor, o que me importa, se nós dois,
A mão na mão, o olhar no olhar, trocando

As almas temos ido de tal sorte,
Que apartá-las nem pode a própria Morte,
Se um dia ela vier __ Deus sabe quando?...

Margarida Suzel Correa D'Oliveira

sábado, abril 15, 2006

A TERNURA

A TERNURA

Hoje apetece-me a escrever um texto sobre "a ternura".
"VOZ DO POVO, VOZ DA RAZÃO", e "QUEM FALA NO BARCO, QUER EMBARCAR". Provérbios no meio de tudo isto?..._o que é que tem a ver com a ternura?!
Bem é que ao falar de "ternura ", possívelmente quero "ternura".
A ternura é um estado de alma que nos proporciona uma quietude maravilhosa. Ao dar-se ternura, fica implícito que se quer receber ternura. Ninguém dá ternura, se não receber, o que significa que a ternura tem dois sentidos, funcionando num circulo.
Ser ternurento é estar bem com outro ser, é pedir ternura.
Surpreende-me que o mundo não seja apologista da ternura. Os fabricantes de armas podiam fabricar armas de ternura. A publicidade poderia usar a ternura como factor que proporcionasse vendas do produto pretendido.
E nós?...
Nós poderíamos lutar pela ternura, exigir muita ternura. Acredito que isto seria a simbologia da felicidade plena.

O viajante

sexta-feira, abril 14, 2006

SOL AINDA...

SOL AINDA...

Sim, sim, _ novas canções:
_Se é velha a vida.
é sempre môço o amor que a perpetua;
môço o prazer que em cada affago estua,
e môço o ardor da renovada lida.

No velho mundo, ao velho sol, á lua,
em cada primavera renascida,
a minha alma celebra commovida
o sempre môço encanto de ser tua!

Há novos tentilhões, nos novos ramos
das velhas azinhagas que trilhâmos,
cada vez mais amantes, mais amigos,

vendo florir á luz novos desejos...
E sobretudo, amor, os novos beijos,
sabem sempre melhor do que os antigos...

Branca de Conta Colaço (1880-1945)

(Na transcrição foi respeitado o texto original)

quarta-feira, abril 12, 2006

VERSOS

VERSOS

Versos... versos... Levá-los-ha o vento.
Prégando aerea, inutil catechese:
sem belleza que nelles arda e peze,
Devem cair, cair no esquecimento.

Seu destino é morrer, num morrer lento,
Sem haver coraçaõ que os guarde e reze.
...Assim, nem isto é magoa que me lese,
Nem coisa que me dê maior tormento.

E comtudo, estes versos para mim
(Ó sonho lindo, ó minha ideia louca,
Eu definir-vos bem, não sei, não posso...!)

Seriam bellos, muito bellos, sim,
Se algum dia os cantasse a tua bôca
Para embalar no berço um filho nosso!

César de Frias

(texto conforme original)

terça-feira, abril 11, 2006

SONETO

SONETO

N'uma estreita gaiola de azevinho,
suspenso quasi a meio do quinteiro,
vive captivo um pobre passarinho
que canta, sem cessar, o dia inteiro.

Punge-o a lembrança do seu doce ninho,
das árvores em flor junto ao ribeiro,
do campo verde onde amadura o linho,
do ceu azul, sereno e hospitaleiro.

E, não obstante a dôr que o alanceia,
de sol a sol, emquanto ha luz, gorgeia
os seus meigos trinados musicais.


Assim o poeta, que a Saudade inspira,
nunca das mãos deixa tombar a lyra,
e, quando soffre, é quando canta mais...

Campos Monteiro

(transcrito tal qual o original)

segunda-feira, abril 10, 2006

A AGULHA

A AGULHA

Houve um tempo em que mandava
Nas cartas que me escrevia,
Uma linha em companhia
Da agulha com que bordava!

Com minhas mãos a enfiava;
Enfiada, então, partia...
Á obra que ella fazia,
assim, de longe, ajudava!

Pobre agulha! Nas mãos d'Ella,
Fazia a renda mais bella,
De maior habilidade!

E a caminho, cheia de ancia,
Sobre o setim da distancia
Bordava a nossa saudade!

(Do poema «Mulher de Bençam»)

António Alves Martins (Viseu, 1894-1929)

Transcrição tal qual o original

A FORJA


A forja

A rua é negra, estreita. No ar se entorna
um diffuso clarão, incerto e falho.
Creanças sem cor, d'uma alegria morna,
brincam, na poeira, em montes de cascalho.

Vem da forja um rumor. E pára... E torna...
_Um rumor de fadiga e de trabalho... _
Sobre o corpo submisso da bigorna,
o ferro canta, no bater do malho.

Saltam faúlhas doidas, aturdidas...
Tine e retine o ferro, ao desprendêl-as
como enxame de abelhas perseguidas...

Que sôis? _pergunto anciosa de entendê-las.
Bagas de suor de mãos ennegrecidas?
Gottas de sangue? Multidões de estrellas?

Virginia Victorino (1898-1967)

"Texto conforme original".

UMA VIAGEM


VIAJANDO

Apetece-me a plagiar Almeida Garrett nas suas “Viagens na Minha Terra”. Só que Almeida Garrett não conseguia fazer o que eu fiz, os seus cavalos não tinham a energia dos cavalos dos tempos modernos. Por compromissos assumidos, é um por a andar cerca das oito horas e quarenta e cinco minutos da manhã. Pelo caminho, fui olhando, mas não encontrei a Joaninha dos olhos verdes, nem ouvi o chilrear dos passarinhos. Passado o limite do concelho de Coruche (fim do distrito de Santarém), é o entrar na quietude do Alentejo . A seguir aos Foros de Vale de Figueira, concelho de Montemor-o-Novo, dez ou mais ninhos de cegonha, sobre os troncos do que foi pinheiros mansos. É um espectáculo para o apreciador da natureza. O tentar cumprir horários, não deu para parar e tirar fotografias.
Já em Montemor foi um olhar para a estação de caminho-de-ferro (desactivada), e mais abaixo apreciar a ponte do comboio, uma autêntica obra de arte. Devo sublinhar que a linha já não existe, não indo além de uma simples miragem.
Apreciando a paisagem circundante, é olhar as magestosas oliveiras, a “rainha” oliveira que dá a azeitona, e que tem uma longevidade invejável.
Lembra-me a adivinha:
Verde foi meu nascimento
Mas de luto me vesti
E para dar lua ao mundo
Mil tormentos padeci.
_O que é?
Resposta: _A azeitona
Em tempos recuados era o azeite que iluminava nas casas humildes, sendo o mesmo colocado numa candeia que tinha uma torcida de algodão.
Mas continuamos a viagem. Também por ali aparece o “rei” sobreiro, árvore imponente que aguenta o clima tórrido do Alentejo e nos dá a sua sombra. Em determinados locais aparece a azinheira, árvore que com a sua bolota, matou a fome a povos primitivos e não só.
Já na Casa Branca, um passar sob a linha de caminho de ferro, tirar uma foto sem sair do transporte, e o continuar da viagem.
Por aí abaixo um reavivar de recordações, de tristezas, de alegrias, de momentos em que quase se foi feliz.
Avancei rapidamente na deslocação, tal qual o pensamento, e eis chegado ao local, zona aprazível e calma.
O convívio que se seguiu foi harmonioso, e criou desejo em todos, que o mesmo se repita.
Depois o regresso, com alguma turbulência (parece viagem de avião), porque foi efectuado pela serra do Caldeirão, boa para penitentes. As imensas curvas não deram hipóteses de apreciar a beleza envolvente, destacando-se as árvores secas, consequência dos incêndios que assolaram a região.
De Almodôvar até final da viagem tudo correu sem problemas.
Gostava que Almeida Garrett me tivesse acompanhado. Talvez ele voltasse a reescrever as suas “Viagens na Minha Terra”.

O viajante

quinta-feira, abril 06, 2006

TARDE

Tarde...

Partiste no explendor da mocidade,
E esperei que voltasses novamente.
Escrevias dizendo: _Brevemente..._,
E esperei uma longa eternidade.

Anos depois tu voltas, finalmente;
E a mim mesmo pergunto se é verdade.
Porque sinto mais viva esta saudade
Do que no tempo em que estiveste ausente

Em vez d'essa alegria tão sonhada,
Olhámo-nos, os dois, sem dizer nada.
E cada qual de nós ficou mais triste.

Adivinhaste... e eu adivinhei:
Perguntas-me, talvez: _Porque voltei?_
E eu só te sei dizer: _Porque partiste?


Espínola de Mendonça
( 1891-1944

Folhas secas


FASES DA VIDA

Abri meus olhos ao raiar da aurora.
E parti. Veio o sol e então seguia
A sombra que eu julgava guiadora,
A minha própria sombra fugidia.

E foi subindo o sol. Ao meio dia,
Escondeu-se-me aos pés a sombra. Agora,
Se volvo o olhar onde passei outrora,
Vejo a seguir-me a sombra que eu seguia.

A gente é o sol de um dia. Sobe, avança,
Passa o zénite e vai na imensidade
Apaga-se no mar onde se lança.

E a vida é a própria sombra _ meia idade,
Somos nós que a seguimos e é esperança,
Depois segue-nos ela e é saudade.

4-2-1938
Julio Dias Nogueira
Retirado do livro 'Folhas secas' página 26

quarta-feira, abril 05, 2006

UM SONETO

Este soneto foi transcrito tal qual o original. Foi retirado d'um 'ALMANACH BERTRAND, 1929' página 131. O português é o da altura. Quem escreveu o soneto foi Oliva Guerra.


ASPIRAÇÃO

Quando se ama, um desejo nos invade
De encontrar a expressão, o verbo, o grito
Com que tudo que ha na alma seja dito
Num clamor que transponha a imensidade

O coração, num vôo de anciedade,
Para exprimir o que tem dentro escripto
Busca o sentido exacto do Infinito
E moldes em que attinja a Eternidade.

Porém a voz, exangue e amortecida,
Em silencios que vão além da Vida,
Queda-se inerte no seu próprio sêr.

E, murmurando apenas sons banais,
Nós sentimos que é sempre muito mais
Aquillo que nos fica por dizer.

Oliva Guerra

Que vergonha

Acabei de chegar a casa. Hoje cheguei um pouco mais tarde. Estive n'uma acção de sensibilização na capital do meu país, e foi isso, como moro a cerca de 8o km demorei mais um pouco.
Fui imediatamente ver a minha obra prima, e aí, aí, fiquei envergonhado. Uma série de comentários de pessoas minhas amigas, que agradeço do coração.
E agora perguntam: _e porquê essa vergonha?
Pois é, é que agora criei responsabilidades, e as pessoas esperam algo me mim. Vamos ver se não vou desiludir as minhas amizades

terça-feira, abril 04, 2006

De propósito

Hoje é 4 de abril de 2006. Esta página foi consequência de um um convite para um encontro de blogueiros. Se todos tinham um blog, porque eu não havia de ter também. E ele aí está, com o nome " DE PROPÓSITO ", certamente com muitos defeitos, que tentarei ir corrigindo.
Tentarei versar um pouco de tudo, a inspiração logo o dirá.