quarta-feira, dezembro 25, 2013

NATAL

Enquanto a chuva
Escorrer da minha vidraça
E furar o telhado
Daquele farrapo de homem que além passa
Enquanto o pão
Não entrar com a Justiça
Lado a lado
Mão a mão
Nem Jesus vem
Andar pelos caminhos onde os outros vão
Um dia
Quando for Natal
(E já não for Dezembro)
E o mundo for o espaço
Onde cabe
Um só abraço
Então
Jesus virá
E será
À flor de tudo
O Redentor
Universal
(Quando o Homem quiser
Será Natal)

Manuel Sérgio

quarta-feira, dezembro 18, 2013

CONSELHO SUPERFLUO

Se alguma vez, por natural maldade,
Alado amor te queira perseguir,
E acontecer, que d'essa vez te enfade,
Este conselho deverás seguir:

«Anima-o, num sorriso de bondade,
_D'aqueles com que sabes iludir;_
Simula que lhe cedes por vontade,
E a mão lhe deita, se tentar fugir.

«Depois, _que sorte a sua, lastimosa!_
Põe-lhe nos olhos apertado véu;
Ata-lhe os pulsos, no regaço o pousa.

«E quando o incauto julgue estar n'um céu,
Das asas níveas, cor de neve e rosa,
Tira-lhe as penas... para o teu chapéu!»
Fernandes Costa

segunda-feira, dezembro 16, 2013

INCONSCIÊNCIA

Todos ajudaram a estragar a boneca
E todos se riem da boneca estragada...
Agora já não existe a boneca
E dentro da boneca não havia nada.
__Ah !  Como eu choro a boneca estragada !

Manuel Correia Marques

quinta-feira, dezembro 12, 2013

LA SOURCE

L'autel gÎt sous la ronce et l'herbe enseveli;
Et  la source sans nom qui goutte tombe,
D'un son plaintif emplit la solitaire combe,
C'est la Nymphe qui pleure un eternel oubli.
     
L'inutile miroir que ne ride aucun pli
À peine est effleuré par un vol de colombe;
Et la lune, parfois, qui du ciel noir surplombe,
Seule y reflête encore  un visage pâli.
    
De loin en loin, un pâtre errant s'y  désaltère;
Il boit, et sur la dalle antique du chemin
Verse un peu d'eau resté dans le creux de sa main.
    
Il a fait, malgré lui, le geste héréditaire;
Et ses yeux n'ont pas vu sur le cippe romain
Le vase libatoire auprès de la patère.
     
                          José Maria de Heredia

sexta-feira, dezembro 06, 2013

THAT IS THE QUESTION

Dois mais dois são quatro.
Nasci  cresci
para me converter em retrato?
em fonema? morfema?
     
          Aceito
          ou detono o poema?

                  Ferreira Gullar