domingo, junho 28, 2015

VISITAÇÃO

O  vazio em visita verifica
     o Verbo, verbaliza a vulva, voa
     Ave invisível visualizo cego:
     náufrago n'água benta vou à rola
    
     Em plena catedral, em pura perda
     recuperada toda ao imprevisto
     do escopro e do martelo no enigma
     cheio de não ter nada nem voz nula
    
     Somente germinar na terra branca
     como neve purpúrea numa salva 
     misturada com lâminas de barba
    
     Gerar o génio na semente surda
     tal um jorro d'esperma numa alva
     mulher aberta totalmente jarra
      
          António Barahona da Fonseca

quarta-feira, junho 24, 2015

MANHANA DE S. JOAO

Manhana de tanto calor !
Todos os criados vão
Visitar o seu Senhor.
Ai de mim, triste coitado,
Qu'eu estou nesta prisão.
Não sei quando é de dia.
Nem quando nasce o sol.
Se não três passarinhos
Que cantam no alvor.
Uma é a cotovia
Outra é o rouxinol,
Outra é a andorinha
Que é a cor do que reclama melhor.
     
           Recolhida no Planalto da Lombada por Cristina Maria
    Monteiro da Silva, da T.A , nº 19, 1º Ano, no Planalto
    da Lombada em 1985.

quarta-feira, junho 10, 2015

MENTIRA

Mente quem diz que a dor, enfim, esquece
no peito onde caiu uma amargura,
só porque um riso falso de ventura
vem aos lábios do triste que padece.
    
Dizem também que o mal nem sempre dura,
que o tempo tude extingue e desvanece.
Mas há mágoas tão grandes, que parece
que só podem findar na sepultura.
    
Os golpes tão profundos que a Desgraça
rasgou nos corações, por onde passsa,
deixam um sulco doloroso, infindo.
    
E ficamos chorando eternamente.
Mas, se, às vezes, sorrimos, de repente,
só Deus sabe o que estamos encobrindo.
     
                     Espínola de Mendonça

sexta-feira, junho 05, 2015

RAIVA

Saber ter raiva
   Com as palavras que gritam força
  
   Ter raiva
   Com os músculos tensos de pólvora
  
   Raiva
   Com os lábios humedecidos de amor
  
   Raiva
   No jogo igualmente jogado
  
   Saber ter raiva
   Raiva de carinho e ódio
   Nas impressões digitais da vida
  
    Raiva com força
   E raiva com amor
    Jogo igualmente jogado
   No dedilhar da metralha
   No dedilhar da guitarra !
  
                    Tomás Jorge

segunda-feira, junho 01, 2015

JUNHO

Tem magia, tem segredos
À sombra dos carvalhais
Ouvir cantar ranchos ledos
Na ceifa de áureos trigais.
    
E às searas vem colher
Seu abençoado fruto
Contra a fome a oferecer
O mais potente reduto !
     
         F. Pinheiro