domingo, julho 29, 2007

A VERDADE ERA BELA

A verdade era bela,
como vinha nos livros.
À beirinha das águas
a verdade era bela.

Os que deram por ela
abriram-se e contaram
que a verdade era bela.

Quase todos se riam.
Os que punham nos livros
que a verdade era bela,
muito mais que os outros.

A verdade era bela
mas doía nos olhos
mas doía nos lábios
mas doía no peito
dos que davam por ela.

Sebastião da Gama
1924-1952

segunda-feira, julho 23, 2007

CANÇÃO

Eu venho de longe
Do fim da Distância
E trago no olhar
As sombras perdidas
Do fumo de aldeias
Onde ninguém mora.

Sou o vagabundo
O pobre da estrada
Que nasceu do amor
Que aconteceu
Entre uma nuvem roxa
E um astro
A morrer.

Andam-me nas veias
Lembranças de mar
Trouxe-me no ventre
A vela mais alta
Das naus
Do Brasil.

E os afagos lentos
Das asas do céu
E a carícia suave
Dos ventos fagueiros
Deram-me a tristeza
Do olhar cansado
De quem não encontra
O porto
Sonhado.

Mas eu sei que existe
E que será meu
Este ancoradouro
Onde sou esperado.
Sei que sou eu éco
Duma voz ao longe,
Que vivo entre as folhas
Dum missal antigo
Onde tu virás
Para rezar
Um dia.

E as contas negras
Dos teus olhos castos
Desfazem o encanto
Que me transformou
Em poeira de ouro
Sobre o livro santo.

E então será
Toda uma redenção :
Cada gesto teu
Cada oração
Cada olhar de súplica
Que elevares ao céu
Me fará surgir
Mais nitidamente
Feito luz e sombra
Mesmo à tua frente
Para ajoelhar e
E cingir-te
A mim.

E há-de haver corais
Que só nós ouvimos
Cantando aleluias
E tanger de sinos
E luz nos vitrais
Que nos iluminem

E então partiremos
E serás só minha.

E para além do tempo
Que não tem depois
Há-de abrir-se um mundo
A vermelho e ouro
Onde nos perdemos
No beijo infinito
Que então te darei
Que me anda na boca
E me queima o sangue
Desde os mares distantes
Onde te sonhei.

Pimentel Bastos

sexta-feira, julho 20, 2007

QUIERO SABER

¿Hay alguna diferencia, acaso,
entre las piedras y los pasos?
¿Quién atropella primero
y quién cede el espacio
para que el otro camine?
La lentitud del hombre,
su torpeza
y la existencia azul de los silencios
se funden quietamente,
se hacen polvo,
tierra y sedimento.
¿Y qué pregunto ahora, si ya sé cómo se llega?
Un lamento a la izquierda,
dos cuadras adelante
y al final
unos se van camino adentro,
otros se pierden y se olvidan.
Queda la piedra, el árbol,
la nostalgia
y la soledad absurdamente vieja de los niños…
Entre flores y hormigas se abren puntos invisibles
por donde envejece la alegría.
¿Quién atropella primero,
quién se lanza, quién se queda, cuál de los tontos
y de los tantos?
Quiero saber de uno más que aún se atreva.
.
Viviane Nathan

quarta-feira, julho 18, 2007

PABLO NERUDA

QUERO SABER
.
Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objecto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com uma condição: não nos compreender.
.
Pablo Neruda (Últimos Poemas)

desconheço o tradutor
______
QUIERO SABER
.
Quiero saber si usted viene conmigo
saber si al fin alcanzaremos
la incomunicación: por fin
ir con alguien a ver el aire puro,
la luz listada del mar de cada día
o un objeto terrestre
y no tener nada que intercambiar
por fin, no introducir mercaderías
como lo hacían los colonizadores
cambiando barajitas por silencio.
Pago yo aquí por tu silencio.
De acuerdo: yo te doy el mío
con una condición: no comprendernos.
.
Pablo Neruda

terça-feira, julho 17, 2007

NA ALDEIA

Duas horas da tarde. Um sol ardente
Nos colmos dardejando, e nos eirados,
Sobreleva aos sussurros abafados
O grito das bigornas estridente.

A taberna é vazia; mansamente
Treme o loureiro nos umbrais pintados;
Zumbem à porta insectos variegados,
Envolvidos do Sol na luz tremente.

Fia à soleira uma velhinha; o filho,
No céu mal acordou da aurora o brilho,
Saiu para os cansaços da lavoura.

A nora lava na ribeira, e os netos
Ao longe correm seminus, inquietos,
No mar ondeante da seara loura.

Gonçalves Crespo
1846-1883

domingo, julho 15, 2007

PASTORAL

Não há, não,
duas folhas iguais em toda a criação.

Ou nervura a menos, ou célula a mais,
não há de certeza, duas folhas iguais.

Limbo, todas têm,
que é próprio das folhas;
pecíolo algumas;
baínha nem todas.
Umas são fendidas,
crenadas, lobadas,
inteiras, partidas,
singelas, dobradas.

Outras acerosas,
redondas, agudas,
macias, viscosas,
fibrosas, carnudas.

Nas formas presentes,
nos actos distantes,
mesmo semelhantes
são sempre diferentes.

Umas vão e caem no charco cinzento,
e lançam apelo nas ondas que fazem;
outras vão e jazem
sem mais movimento.
Mas outras não jazem,
nem caem, nem gritam,
apenas volitam
nas dobras do vento.

É dessas que eu sou.

António Gedeão

sábado, julho 14, 2007

CECÍLIA MEIRELES

CANÇÃO DA TARDE
Caminho do campo verde
estrada depois da estrada
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sózinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Cecília Meireles

quinta-feira, julho 12, 2007

NO TE ENAMORES DEL AMOR

Enamorate de alguien que te ame,
que te espere, que te comprenda
aun en la locura;
de alguien que te ayude,
que te guíe, que sea tu apoyo,
tu esperanza, tu todo.
.
Enamórate de alguien que no te traicione,
que sea fiel, que sueñe contigo,
que sólo piense en tí, en tu rostro,
en tu delicadeza, en tu espiritu
y no en tu cuerpo o en tus bienes
.
Enamorate de alguien
que te espere hasta el final;
de alguien que sea lo que tú no elijas,
lo que no esperes.
.
Enamorate de alguien que sufra contigo,
que ria, junto a ti,
que seque tus lagrimas,
que te abrigue cuando sea necesario,
que se alegre con tus alegrias
y que te de fuerzas despues de un fracaso.
.
Enamorate de alguien que vuelva a ti
despues de las peleas,
despues del desencuentro;
de alguien que camine junto a tí,
que sea un buen compañero,
que respete tus fantasias,
tus ilusiones.
.
enamorate de alguien que te ame.
no te enamores del amor.
enamorate de alguien que este enamorado como yo...
.
Desconheço o autor