sábado, setembro 24, 2011

TIMIDÍSSIMA

Medo? Medo de quê? Porquê? Responde.
O amor te encanta e te amedronta? Vamos...
Tímido pintassilgo que se esconde
Entre a folhagem dos mais altos ramos...

Canta e confia, sem temeres onde
Pousas. Tu, como os pássaros que amamos,
Pensa que é num ramúsculo da fronde
Que se embalam os débeis gaturamos...

Lembra-te, sempre, colibrí, que és ágil...
Tremes, arisca, mal pisando a areia,
Como se acaso andasses sobre brasas...

Não tenhas susto, beija-flor, se és frágil:
Se o balanço do galho te arreceia,
Ave, não tenhas medo: tu tens asas...

Martins Fontes

quinta-feira, setembro 22, 2011

SAUDADE

Saudade! Lenços brancos me acenando
Numa clara manhã de despedida...
Além, na mata, um sabiá cantando
Dentro da noite de luar vestida.

Saudade! Pensamentos voando, voando,
Pela intérmina estrada percorrida...
Desejo inútil de ficar lembrando
Factos passados no correr da vida.

Saudade! Por de sol de minha terra,
Fazenda onde eu nasci, ao pé da serra,
Carros de bois, ao longe, a rechinar.

Saudade! Quantas vezes, contrafeito,
Eu procuro conter dentro do peito
Meu pobre coração que quer chorar!

João Carneiro de Rezende

domingo, setembro 18, 2011

SAUDADE

Saudade já saudade
antes saudade
amor de te não ver
porque pressinto

se sinto que te ter
é não saber
distância já agora
e que não minto

Amor de que me calo
e te não digo

amor já saudade
já instinto

Maria Teresa Horta