terça-feira, agosto 30, 2011

O TEMPO, CAMINHEIRO ETERNO

Parar... parar, um dia só, um instante
Na vertigem do tempo em galopada,
Quando a luz da ventura é mais doirada
E a mocidade esplende triunfante!

Parar... parar, na hora perturbante
Dum sorriso de amor, ou na alvorada
Duma esperança ridente, modelada
Em oiro ardente, ou límpido brilhante!

Repousar num recanto de verdura
Feito dos dias de maior frescura...
Na carícia dum bem que nos conforte!

...E não ouvir do tempo a voz potente
No seu grito:_«Avante eternamente
Que na vida fugaz, parar... é morte!»


Candido Ribeiro

sexta-feira, agosto 26, 2011

VELHINHA

Era nova no tempo dos franceses:
O noivo, um rapagão, ousado e forte,
Depois das bodas, muito poucos meses,
Deixou da vida o luminoso norte!

Vergada ao peso de ásperos reveses,
Escravizada pela mão da sorte,
Quantas vezes chorando, quantas vezes
Ela pedia o extremo alívio à morte!

Agora, quando na festiva aldeia,
Magra, doente, acabrunhada e feia,
Essa triste figura vai passando,

Param as doces, joviais cantigas,
E das rijas, sadias raparigas
Nenhuma deixa de ficar cismando...

J. A.

sábado, agosto 20, 2011

QUE NÃO ... QUE SIM

_Elisa, se eu fora rico,
Tão rico,
Que por essa linda mão,
Tão linda,
Te desse riqueza infinda,
Que dirias então?
_ Que não.

_E se eu fosse um grande, um nobre,
Tão nobre,
Que por essa linda mão,
Tão linda,
Te desse nobreza infinda,
Que me dirias então?
_Que não.

_E se em vez de lyra, espada,
Falada,
Eu trouxesse, e por tua mão
Tão linda,
Te desse uma glória infinda,
Que me dirias então?
_Que não.

Se rico, nobre e soldado,
C'roado,
Fosse rei e por tua mão
Tão linda,
Desse a c'roa e terra infinda,
Que me dirias então?
_Que não.

Ai ! qu'esperanças !... sendo eu pobre,
Tão pobre,
Só rico d'alma !... se enfim,
Tão linda,
Mão pedisse... inveja infinda,
Que me dirias a mim?
_Que sim.

João de Deus

quarta-feira, agosto 03, 2011

ANTONIO MACHADO

Anoche soñé que oía
a Dios, gritándome: ¡Alerta!
Luego era Dios quien dormía,
y yo gritaba: ¡Despierta!

António Machado

segunda-feira, agosto 01, 2011

AGOSTO

Dá saúde, dá prazer,
Percorrer todo o pomar,
Para assim bem escolher
Qual fruto a arrecadar.

Seja a pera, ou a maçã,
Ou o pessego rosado,
Deve ser pela manhã
Da própria mãe separado.

F. Pinheiro