quinta-feira, novembro 27, 2014

MALMEQUER

Se me ponho a desfolhar
Um malmequer, curiosa,
Fico triste e a pensar
Se me engana a flor mimosa

Tirando pétalas fora
Por querer saber a sina,
Vejo logo, sem demora,
A sorte que me destina...

Malmequer é agoirenta
Pois começa a dizer mal,
Mas é flor que a todos tenta

Muito embora trivial,
Dizer bem não ex'primenta
Mal dizer é habitual !...

 
Carolina Viseu Pinheiro da Silva Matos

segunda-feira, novembro 24, 2014

VOY A DORMIR

Dientes de flores, cofia de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelación; la que te guste;
todas son buenas; bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes...
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases

para que olvides... Gracias. Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido...

     
                   Alfonsina Storni

domingo, novembro 23, 2014

ORAÇÕES DO AMOR

Eu não acreditava
Que simplesmente à luz d'um doce olhar
Tornasse a alma uma perfeita escrava.
      
Contudo, ò flor sem par,
Quando ontem, passando, tu me olhaste,
Mal imaginas que no mesmo olhar
A alma me levaste.
      
António Fogaça

sábado, novembro 22, 2014

PRAÇA DE CASA FORTE

           para José Rodrigues de Paiva

Neste lago afogou-se a minha infância,
À sombra dessas árvores morri ...
Hoje, um espelho afronta as minhas ânsias :
Minha imagem me diz: nunca te vi !
     
Dói-me o agreste amor por esse verde
Que dentro do meu peito diz adeus.
E eu digo adeus como quem não sente
na vida que passou e se perdeu !
     
Ó praça, fogo verde pela tarde,
Quero queimar-me aqui onde tu ardes
Por entre os beijos longos dos casais ;
     
Quero deixar-me aqui, raiz e fronde,
Deitado sobre a grama que foi ontem,
Inutilmente verde, sombra em paz !...
      
                               Paulo Gustavo 

quinta-feira, novembro 20, 2014

O MAIOR COLOSSO

"Ciclópeo mar! No bojo insano, a espuma
Recorda mil estrofes de pavor,
Porém domina as vagas, uma a uma
Na praia, a humilde areia sem valor...

Eis a montanha! Com vaidade suma,
Dirige ao céu fantástico pendor;
Colosso ingente sim... mas pode a bruma
Dissipar nele a forma, o brilho, a cor!

Só o pensamento avança. Iluminado,
Resolve e queima as cinzas do passado,
Vai dormitar, em sonho, nos museus...

Grava centelhas de fulgor eterno;
Pode afundir nos báratros de Averno,
P'ra despertar no coração de Deus!"


Olindo Casal Pelayo

quarta-feira, novembro 12, 2014

RAFAEL ALBERTI

Si yo nací campesino,
si yo nací marinero,
?por qué me tenéis aquí,
si este aquí yo no lo quiero?
      
El mejor dia, ciudad
a quien jamais he querido,
el mejor dia _ i silencio ! _
habré desaparecido.
      
          Rafael Alberti 

sexta-feira, novembro 07, 2014

RAJEUNISSEMENT

Jadis, au Noveau Monde, une eau miraculeuse
Rajeunissait tous ceux qui s'y baignaient, dit-on,
C'etait des Espagnols l'idée ambitieuse,
Et le réve chéri de Ponce de Lèon.

Mais on sait que toujours cette onde merveilleuse
A trompé des chercheurs la folle ambilion,
La fontaine rêvée est chose fort douteuse,
Peut-être elle n'était que pure illusion.

Eh bien, malgré cela, sais-tu ce que je pense?
Que j'ai tout près de moi ma souce de Juvence,
Car près de ce qu'on aime on rajeunit toujours.

Ainsi je trouve en toi la source qui, sans cesse,
M'apporte un souvenir du temps de ma jeunesse
Et fait revivre encor mes plus fraîches amours!
 

      
Celestino Soares

segunda-feira, novembro 03, 2014

MUITO PEDIR

__Dá-me esse jasmin de cera,
       Minha flor ?
«Mas... e depois, se lho dera,
       Meu senhor ?!»
       
__Depois, era uma lembrança.
       «Mas de quê ?»
__De uma tão linda criança,
       Já se vê.
      
«Oh !  tão linda !  Mas parece,
       Sendo assim,
Que inda quando lhe não desse
        Tal jasmin...»
      
__Nunca se esquecia por certo.
       «Nunca já ?»
__Nunca.  «Nunca é muito certo,
       Mas...  vá lá !»
      
__E a rosa, que bem lhe fica !
       Dá-ma,  flor ?
«Oh !  a rosa,  a rosa pica,
       Meu senhor !»
      
             João de Deus

sábado, novembro 01, 2014

A TERRA

                    Fecundarás a terra com o suor do teu rosto.
                                                                GENESIS,
     
Cavai, eternamente, a velha terra !
Sofrei, suai, gemei, na dura enxada,
Fecundai-a na paz, ou pela guerra,
Quer seja pelo arado, ou pela espada.
      Ò Homem !  trabalhar é tua herança,
      Até que a morte, enfim grite: _descansa !
     
É a árvore a tua companheira,
O lar, a tenda, a sombra de teus passos,
Da tua amante a perfumada esteira,
Como bençãos, t'estende os longos braços.
      E ou seja em teu inverno ou teu estio,
      É teu berço, teu leito, e teu navio !
     
É preciso que as lágrimas que correm
Façam crescer dos cardos os trigais,
E por cima dos corpos dos que morrem
Se ergam verdes loureiros triunfais.
      É preciso que em paz, ou pela guerra,
      Com pranto ou sangue, se fecunde a terra !
     
É preciso cavá-la !  _Nos teus braços
Luza a enxada, ou o gládio dos destroços.
A vida é curta, e breves nossos passos
E as flores vivem, crescem sobre os ossos.
      O berço, não é mais, ó criatura !
      Que a linha d'união, à sepultura.
     
É preciso que a morte, a dor, os lutos
Se transformem em vinhas ostentosas,
Nossos prantos convertam-se nos frutos,
Do sangue dos heróis tinjam-se as rosas.
      Sofrei, lutai, morrei, ò infelizes !
      __O vosso sangue é útil às raízes.
      
               António Duarte GOMES LEAL