domingo, março 29, 2015

ILUSÕES

Ilusões!...
Sonhos que a alma sonhou,
Quimeras que Deus nos deu,
Sonhos que a vida teceu...
...Que a morte feroz levou!...


Ilusões!...
Estrelas que o espaço riscaram,
Róseas manhãs perfumadas,
Imagens volatizadas
Que nem rasto nos deixaram...


Ilusões!...
Esperança tantas vezes morta...
Melodias imperfeitas,
Vagas na praia desfeitas...
...Fogo que aquece... conforta.

António Luís Roldão

sábado, março 28, 2015

SONETO


No me mueve, mi Dios, para quererte*
el cielo que me tienes prometido,
ni me mueve el infierno tan temido
para dejar por eso de ofenderte.

Tú me mueves, Señor, muéveme el verte
clavado en una cruz y escarnecido,
muéveme ver tu cuerpo tan herido,
muévenme tus afrentas y tu muerte.
.
Muéveme, en fin, tu amor, y en tal manera,
que aunque no hubiera cielo, yo te amara,
y aunque no hubiera infierno, te temiera..

No me tienes que dar porque te quiera,
pues aunque lo que espero no esperara,
lo mismo que te quiero te quisiera.

.Anónimo

quarta-feira, março 25, 2015

APÓLOGO DA MORTE

Vi eu um dia a Morte andar folgando
Por um campo de vivos, que a não viam.
Os velhos, sem saber o que faziam
A cada passo nela iam topando.
     
Na mocidade os moços confiando,
Ignorantes da morte, a não temiam.
Todos cegos, nenhuns se lhe desviam;
Ela a todos c’o dedo os vai contando.
      
Então, quis disparar, e os olhos cerra:
Tirou, e errou! Eu, vendo seus empregos
Tão sem ordem, bradei: Tem-te, homicida!
     
Voltou-se, e respondeu; Tal vai de guerra!
Se vós todos andais comigo cegos,
Que esperais que convosco ande advertida?
     
     D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666)

quinta-feira, março 19, 2015

O MAL

O meu avô octogenário, já tremente
(um velho é fruto seco, bem cristalizado),
o meu avô, que é cego e enxerga mais que a gente,
disse-me, há dias, estas cousas, a meu lado:
      
_«Nascem as árvores direitas, geralmente,
como o Bem nasce vertical, e cresce e espiga;
_mas o cipó, que nasce torto, impertinente,
logo as enlaça, e tudo entorta e tudo intriga.
     
Sobe, neto, ao farol do mar da Vida, e espreita
do alto gradil do Pundonor que dá conforto:
_quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita;
     
corta a raíz do mal (que é tortuoso), corta;
olha que um pau, lançado ao fogo, quando é torto,
até a chama é torta,  até a cinza... é torta.»
     
                 José Marques da Cruz

terça-feira, março 17, 2015

QUE SOMBRA

Que sombra eu sou
Que a todos apetece
Sugar, esconder, esquecer e denegrir ?
Os passos que me pisam
E ressoam
Há mil anos ecoam
As vozes de negar
E de trair.
Que sombra eu sou
Que ensombra toda a gente,
Os amigos, os mortos,
A família.
E aquela imensa estrada
Semovente
De líquida vigília,
De livre continente,
Destino meu, alheio e não presente ?
             Natércia Freire

domingo, março 15, 2015

SONETO

Quem te não teve, instante venturoso,
Entre nuvens cortado de fugida,
Por um límpido raio luminoso,
Que para sempre lhe doirou a Vida!

Deve ser cruelmente desditoso,
Quem n'alma não tiver a imagem querida
De alguém, de um simples sonho vaporoso,
Que a existência lhe torne apetecida!

Divino encanto, que jamais esquece,
Quem te não teve? Lastimosa e escura,
A alma triste, que te não conhece,

E a quem foi recusada tal ventura!
Ai, daquele, a quem nunca, em vida, desce
Em sonhos, a visão da formosura!


Fernandes Costa

quarta-feira, março 11, 2015

ROMANCE DAS MULHERES ....

ROMANCE DAS MULHERES DE LISBOA,
NO REGRESSO DAS PRAIAS
.
Em terra, tantas gaivotas
Mas cedo que anoitece
De automóveis sem capota,
como de conchas abertas,
saís vós, as pressurosas
deusas nos meses de estio,
favoritas do lodo
e dos cavalos marinhos,
tontas cortesãs do Sol
que de bronze vos vestiu...
Em terra, tantas gaivotas
Vultos, sombras, calafrios...
O que fostes não mais volta:
é dif'rente cada estio...
'Státuas de sal e de Sol,
o molde ficou perdido
nas areias e nas rochas,
todo cuspido de limos,
ou roído, à luz do ódio,
pelos cavalos marinhos...
O que fostes já não volta,
ó efémeras Anfitrites
[Para quantas, dentre vós,
foi este o último estio?]
.
Já no Mar os hipocampos
comem ciúme e silêncio;
amotinados, em bandos,
bebem da Lua o veneno;
e preparam, conspirando,
o grande levantamento
_oh, vagas turbilhonantes_
do equinócio de Setembro
E, na cidade, entretanto,
passais vós, éguas, que o vento
já não emprenha, mas lança
às campinas do desprezo
Éreis 'státuas de sal
e do Sol, mas não soubestes
oiro e espuma eternizar.
Ai que cedo que anoitece
Das sombras do litoral,
uma galopada investe
para vos arrebatar
Rompem num choro as sereias
dos barcos supliciados.
Em vão cerrais as orelhas
dos brados que o temporal
contra vós desencadeia
.
Em terra, tantas gaivotas
Oh, que cedo que anoitece
De comboio e ferry-boats,
como de estranhas galeras,
_ressurgis para os encontros,
os funerais e o comércio;
para estreias e vestidos;
para os quartos de aluguer,
_e outros fornos onde, a frio,
ardereis, míseros restos,
até ficar derretido
todo esse bronze d'empréstimo
.
David Mourão Ferreira

domingo, março 08, 2015

8 DE MARÇO

quarta-feira, março 04, 2015

FICA COMIGO ESTA NOITE

Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.
Lá fora o frio é um açoite;
Calor aqui tu terás.
Terás meus beijos de amor,
Minhas carícias terás;
Fica comigo esta noite
E não te arrependerás.
Quero em teus braços, querida,
Adormecer e sonhar;
Esquecer que nos deixamos
Sem nos querermos deixar...
Tu ouvirás o que eu digo;
Eu ouvirei o que dizes.
Fica comigo esta noite
E então seremos felizes.
Nelson Gonçalves 
https://www.youtube.com/watch?v=3X1EgYDhdq0

http://pt.wikipedia.org/wiki/N%C3%A9lson_Gon%C3%A7alves

segunda-feira, março 02, 2015

TUDO SE GASTA

Nós vestimos de sonho
    Embelezamos com flores
                     Tanta sucata !
    
    Mas a ilusão
   Também se gasta
                        Sensação de ouro e prata
                        De repente
                                     Lata
 
                            Tomás Jorge