sábado, dezembro 24, 2011

NATAL

Sozinho na calçada, junto à grade
Da sumptuosa residência, a medo,
Contemplas,, no jardim, a alacridade
De um bando de petizes em folguedo.

Na árvore de Natal, que variedade
De enfeites, e de luz! quanto brinquedo!
Paira um sorriso de felicidade
Em cada rosto inocentinho e ledo.

Só tu, ante a alegria alvoroçada
Das crianças ricas, sem maldade e fel,
Pensas, a alma em tristezas mergulhada,

Olhando os trapos com que mal te cobres
«Porque será que o bom Papá Noel
Se esquece sempre das crianças pobres?»

Maria Nunes de Andrade

quarta-feira, dezembro 21, 2011

PAISAGEM DE INVERNO

Que queres que te diga da paisagem
Donde te escrevo! Meu saudoso amigo,
Tanto disseste que aprendi contigo
A só ver nela a minha própria imagem.

_O mar está bravo; a vinha nua; o trigo
É só esperança. Ríspido e selvagem
O pinhal sustenta com coragem
O seu pesado e verde luto antigo.

Ó minha irmã fecunda e desgraçada!
Já não há sol nem coração que te ame,
Chora no mar a voz dos temporais!

_Oiço daqui a tua voz pausada:
"Há-de haver sempre, em frente ao mar que brame,
A pacífica orquestra dos pinhais."

Sílvio Rebelo

segunda-feira, dezembro 12, 2011

VOY A DORMIR

Dientes de flores, cofia de rocío,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,
tenme prestas las sábanas terrosas
y el edredón de musgos escardados.

Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.
Ponme una lámpara a la cabecera;
una constelación; la que te guste;
todas son buenas; bájala un poquito.

Déjame sola: oyes romper los brotes...
te acuna un pie celeste desde arriba
y un pájaro te traza unos compases

para que olvides... Gracias. Ah, un encargo:
si él llama nuevamente por teléfono
le dices que no insista, que he salido...

Alfonsina Storni

quinta-feira, dezembro 01, 2011

ABERTURA

De pé sobre a vaidade e a vanglória,
sobre a miséria que me prende ao mundo,
aflorando da lama em que me afundo
com uma febre estranha de vitória,

eu guardarei p'ra sempre na memória
esse germe tão cálido e fecundo
que se desprende, _ oh povo sem segundo! _
das páginas ideais da tua história!

Lanças, muralhas, cavalgadas, lutas,
o fragor dos combates, das disputas,
a fé e o sangue, a cruz sobre o arnez!

História de luz que as outras mais redime!
..............................................................................
Nem há no mundo orgulho mais sublime
de que poder gritar: Sou Português!

Armando Soares Imaginário

(dizem por aí que querem acabar com o feriado do 1º de DEZEMBRO)