O ROUXINOL E A CIGARRA
o rouxinol e a cigarra
Nas horas de calma ardente
um rouxinol sonoroso
doces gorgeios soltava
sobre um loureiro frondoso.
Dois pastores que defronte
à sombra estavam sentados
seu grato cantico ouviram,
embebidos e encantados.
Eis cigarra presunçosa,
que a leda cena observava,
pousou no extremo do ramo
onde o rouxinol cantava.
E, de ímpia inveja mordida,
lhe diz: __«Teimoso, sossega,
que das aves importunas
és a maior cega-rega.
Incessante, dia e noite,
atroas todo este prado;
com teus dissonantes guinchos
tens-me os ouvidos quebrado.
Atento um pouco me escuta,
se cantar melhor pretendes,
que, inda que tens a voz rouca,
ao menos o estilo aprendes».
O doce musico alado,
sem dar assenso á inveja,
prosseguiu com mais doçura
na cantilena saudosa.
Ela, então, por ver se acaso
o turbava e confundia,
a cantiga estrugidora
fervorosa principia.
Um dos pastores, irado
contra a louca impertinente,
diz: __«Aguarda, toma o prémio
de cantiga tão cadente».
Ergueu-se e com mão tão certa
lhe atira uma torroada,
que a malfadada cantora
caiu por terra esmagada.
Se a inveja assim castigassem,
não seriam turbadoras
dos rouxinóis do Parnaso
cigarras estrugidoras.
Belchior Curvo Semedo
(Montemor-o-Novo 1766/1838)
Nas horas de calma ardente
um rouxinol sonoroso
doces gorgeios soltava
sobre um loureiro frondoso.
Dois pastores que defronte
à sombra estavam sentados
seu grato cantico ouviram,
embebidos e encantados.
Eis cigarra presunçosa,
que a leda cena observava,
pousou no extremo do ramo
onde o rouxinol cantava.
E, de ímpia inveja mordida,
lhe diz: __«Teimoso, sossega,
que das aves importunas
és a maior cega-rega.
Incessante, dia e noite,
atroas todo este prado;
com teus dissonantes guinchos
tens-me os ouvidos quebrado.
Atento um pouco me escuta,
se cantar melhor pretendes,
que, inda que tens a voz rouca,
ao menos o estilo aprendes».
O doce musico alado,
sem dar assenso á inveja,
prosseguiu com mais doçura
na cantilena saudosa.
Ela, então, por ver se acaso
o turbava e confundia,
a cantiga estrugidora
fervorosa principia.
Um dos pastores, irado
contra a louca impertinente,
diz: __«Aguarda, toma o prémio
de cantiga tão cadente».
Ergueu-se e com mão tão certa
lhe atira uma torroada,
que a malfadada cantora
caiu por terra esmagada.
Se a inveja assim castigassem,
não seriam turbadoras
dos rouxinóis do Parnaso
cigarras estrugidoras.
Belchior Curvo Semedo
(Montemor-o-Novo 1766/1838)
3 Comments:
Continuas no teu trabalho de revelação de grandes vultos da nossa poesia, cujo conhecimento pelo publico é no geral quase desconhecido. É um trabalho meritório, que a nós amantes da poesia, nos deliciamos.
Bem hajas
Ooooohhh... tadita....!!
bjs
Um poema de brisa campestre.
Beijinhos.
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