O VISIONÁRIO OU SOM E COR
«Alucina-me a cor ! a rosa é como a lira,
A lira pelo tempo há muito engrinaldada,
E é já velha a união, a núpcia sagrada,
Entre a cor que nos prende e a nota que suspira.
Se a terra, às vezes, brota a flor que não inspira,
A teatral camélia, a branca enfastiada,
Muitas vezes no ar, perpassa a nota alada
Como a perdida cor dalguma flor que expira...
Há plantas ideais dum cântico divino,
Irmãs do oboé, gémeas do violino,
Há gemidos no azul, gritos no carmesim...
A magnólia é uma harpa etérea e perfumada,
E o cacto, a larga flor, vermelha, ensanguentada,
__Tem notas marciais, soa como um clarim.»
António Duarte GOMES LEAL
1848 - 1921