Amor é um fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É um estar preso por vontade;
É servir a quem vence o vencedor;
É um ter com quem nos mata lealdade.
Mas ?como causar pode o seu favor
Nos mortais corações conformidade,
Sendo a si tão contrário o mesmo Amor?
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Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste
Quem nunca deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!
Como já para sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam essas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te, somente, a dura morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!
Ó mar! Ó céu! Ó minha escura sorte!
Qual pena sentirei que valha tanto
Que inda tenho por pouco o viver triste!
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Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,
Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.
Ela só quando amena e marchetada
Saía, dando ao mundo claridade,
Viu apartar-se d' ua outra vontade,
Que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
Que duns e doutros olhos derivadas,
S' acrescentaram em grande e largu rio;
Ela viu as palavras magoadas,
Que puderam tornar o fogo frio
E dar descanso às almas condenadas.
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"Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
As minhas mais fundadas esperanças.
De amor não vi se não breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!"