sexta-feira, abril 22, 2011

poema de ROSALÍA DE CASTRO en gallego

Este vaise y aquél vaise,
e todos, todos se van;
Galícia, sin homes quedas
que te poidan traballar,
Tés, en cambio,orfos e orfas
e campos de soledad,
e nais que non teñen fillos
e fillos que non ten pais.
E tés corazóns que sufren
longas ausencias mortás,
viudas de vivos e mortos
que ninguén consolará.


Rosalía de Castro

sábado, abril 16, 2011

PIEDOSA MENTIRA

Não podes _ bem o sei _ amar-me. Quando
Aos rogos meus tu acedeste enfim,
Foi porque ao ver-me triste e miserando
Tiveste dó e compaixão de mim.

E os meses vão correndo e vão passando
Neste suplício atroz, que não tem fim:
Tu, o amor que não sentes simulando;
Eu, a fingir que sou feliz assim!

E não obstante, como te agradeço!
São intensas as dores que padeço,
Mas o teu sofrimento é bem maior.

Bendita seja, em toda a eternidade,
A tua boca, que mente por piedade,
E que me beija sem me ter amor!

Campos Monteiro
1876-1934

sábado, abril 09, 2011

A ESMOLA

Disse o nababo amoroso:
_«Queres a mim por esposo?
Queres ouro? queres ouro?
Eil-o a teus pés, eu te adoro!


Oh bela! bela entre as belas!
Tu a melhor das estrelas,
A mais pura das mulheres,
O que desejas, que queres?


Eu te darei do Levante
As safiras, o diamante,
O coral que vai surgindo.


Disse o poeta sorrindo:
_«Eu te dou meu coração!»
E a bela estendeu-lhe a mão.

Luís Guimarães

quinta-feira, abril 07, 2011

UMA ERVA

Era uma vez uma erva, uma sózinha,
Que vivia sem água e sem calor;
Quem passava não via a pobrezinha,
E quem visse: pisava-a, sem amor.


O seu corpinho verde, que não tinha
Bebido a chuva nem o sol em flor,
Morreu: e a erva mísera e mesquinha,
Estendeu-se no chão, seca de dor.


Andava ali, n'aquela ocasião,
Um amoroso e noivo passarinho
Que construia o ninho com paixão.


E o destino da erva foi diverso:
Leva-a no bico a ave p'ra o seu ninho,
E dela faz a renda para o berço.


Afonso Lopes Vieira

quarta-feira, abril 06, 2011

A NOIVA

Daqui por dois dias
Vai ela casar.
Que sans alegrias
Que rosas sem par!

As noites vão frias,
Vai claro o luar...
Há luz, cotovias,
Estrelas no ar!

 
Suavíssima agora,
Dormindo descóra,
Talvez sonhe já...

 
Que céu doce e brando!
A noiva sonhando,
Que não sonhará!


Eduardo Coimbra


domingo, abril 03, 2011

ZARA

Feliz de quem passou, por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa.
E leve como a sombra sobre a água.

Era-te a vida um sonho, indefinido
E ténue, mas suave e transparente...
Acordaste... sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.


Antero de Quental

sexta-feira, abril 01, 2011

DEGREDO

Naquele branco navio
Que ao longe parece fumo,
Que as ondas do mar salgado
Parecem deixar sem rumo,
Sou eu quem vai embarcado,
Província! minha província
Como agora me lembrais!
Cheiro da terra molhada
Resina dos pinheirais!
Província! Minha província!
Arga! Bonança! Peneda!
Formariz e Portuzelo!
Abelheira e Pomarchão!
Ai Ponte de Mantelais!
Aldeia de Verdoejo!
Ai S. Miguel de Frontoura!
Friestas! Paçô! Venade!
Vilar de Moiros! Carreço!
Santa Cristina de Afife!
E lá no fundo Cabanas...
Rio Minho! Rio Coura!
Rio de Ponte do Lima!
Rio de Ponte da Barca!
(O mar começa em Vi-Ana...)
Ai! a Torre de Quintela
Mai-la da Glória! Bretiandos!
Ai o paço do Cardido!
Nossa Senhora de Aurora!
Alminhas de Além da Ponte!
Ai Cruzeiro da Matança!
Ai! as árvores da Gelfa!
Bruxarias e ladrões...
Certa mão branca nos muros...
Vozes na casa deserta...
Ai! o vento! A noite! o medo!
E a madrugada! E os poentes?
E as rusgas? E as romarias?
Mocidade! Mocidade!
Capelinha de S. Bento!
Carreirnhos ao luar...
(Por quantos deles não vão
Os homens à perdição
Que logo à morte vai dar?)
Ai! leiras de milho alto!
Videiras! Ai videirinhas!
Canções na pisa do vinho!
Toadilhas de aboiar!
Esfolhadas! Esfolhadas!
Ai! bailaricos na praia
Pelas cortas do argaço!
Tiranas1 Viras e gotas!
Verde Gaio! Verde Gaio!
Minha vila bréjeira!
Minha harmónica tombada!
Como agora me lembrais!
E aquele pinheiro manso
Ao dar a volta da estrada?
E aqueles beijos contados
Nos dedos daquela mão?
E as ondas do mar baloiçam
Já não sei que embarcação...
E aquele branco navio
Que ao longe parece fumo,
Que as ondas do mar salgado
Parecem deixar sem rumo,
(Aquele branco navio!)
É vida humana. Pecado
Maior do que o mar salgado.
Que o mar, sem ele, é vazio!


Pedro Homem de Melo