DOR INFINDA
Onde só há firmeza na mudança,
E onde o homem se abraça a uma esperança,
Mal vê outra esperança já perdida.
Passam no mar as ondas, de fugida,
Passam os vendavais, passa a bonança,
Passa a alegre inocência da criança
E a cólera da fera enraivecida.
Passa o brilho do espírito e dos olhos,
Passam do corpo a formosura e a graça,
Passam o viço e os bálsamos da flor...
Como as carícias, passam os abrolhos,
Só esta minha dor é que não passa,
Passando cada vez a ser maior.
Eugénio de Castro