Estamos no mês de Dezembro de 2006. Vivo num país, por tradição católico, embora se professem outras religiões. Quero desejar a todas as pessoas existentes no Mundo, um FELIZ NATAL com muita felicidade, e que o ANO NOVO de 2007, seja para todos, o melhor ANO da sua VIDA, e que os anos vindouros ainda sejam melhores.
A NATIVIDADE
No seu fojo do Líbano dormita,
De olhar semicerrado, um lobo enorme,
Mas, a espaços, qualquer coisa o agita,
E lhe arrepia o corpo, enquanto dorme...
Já por três vezes o ouvido esperto
(Que esse não dorme em fera astuta e velha...)
Como que adivinhou, num som incerto,
O balido longínquo duma ovelha...
Seria um som, apenas, o que ouviu?
E, erguendo-se nas patas de repente,
Do fojo escuro e fétido saiu,
E pos-se a olhar em roda atentamente...
E, logo, uma ovelhinha desgarrada,
Que ao largo anda a tosar ervas macias,
Se fica, estarrecida, hipnotizada,
Julgando findos os seus poucos dias...
E o lobo para ela vai correndo,
De olhos acesos como dois carvões,
Enorme, ossudo, sanguinário, horrendo,
Aos pulos, aos ressaltos, aos galões...
Um curto passo, mais um curto instante,
E aí pobrezinha, pobrezinha dela !
Já sente os bafos duma goela hiante,
E já o olhar, de medo, se lhe vela !...
Porém, na fúria da veloz carreira,
O lobo estaca, fica ao chão pregado !
...E apaga-se-lhe a ira carniceira !
...E adoça-se-lhe o olhar ensanguentado !
O que o detém ali? Não compreende,
Por mais que active o seu pensar nevoento...
Só sabe e sente que uma força o prende,
Num dominante e doce encantamento;
Só sabe e sente que essa força estranha,
Tendo a energia hercúlea dum gigante,
É suave e mansa como o luar que banha,
Por alta noite, algum casal distante...
E, no seu vago meditar de fera,
Cogita e pensa enevoadamente
Na causa estranha e nova que pudera
Torná-lo quieto e manso de repente ...
E a si próprio pergunta, enquanto o som
Da ovelhinha, a balir, se apaga e some:
_Que milagroso Bem me tornou bom
A mim que sou um lobo e tenho fome?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Naquela tarde, àquela mesma hora,
Nascia, em Nazaré , Nossa Senhora.
Augusto Gil