domingo, dezembro 31, 2006

NO ALBUM


Saudando a rósea luz da madrugada
O terno rouxinol gorgeia amor ;
E os suspiros do alado trovador
Ecoam na floresta inda ensombrada.

Arrubra-se o horizonte, e aljofrada
Mil centelhas esparge a débil flor,
Brilhando qual a pedra do fulgor
Na matiz da planície encastoada.

Desce um raio de sol; belo e divino
Oscula a flor e n'ela se detém
Aurindo a p'tala o rócio cristalino!...

Como a gota d'orvalho, brilho tem
A lágrima num rosto pequenino
E um beijo a leva... o osculo da mãe!

Henrique de Alarcão

sábado, dezembro 30, 2006

FELIZ ANO NOVO 2007

FELIZ ANO NOVO 2007 é o que desejo a todas as pessoas minhas amigas, e porque não a todas as pessoas existentes no Mundo. Sei que tudo isto não passa de uma miragem, pois vai haver muito sofrimento.
Mas é momento de alegria.
FELIZ ANO NOVO, cheio de coisas boas, e, FELICIDADES.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

MÃE

Às vezes, passo horas inteiras!...
olhos fitos nas ladeiras,
que ligam o passado ao presente.
E, sempre, sempre latente
és tu, que eu vejo, querida;
guiando-me ou dando guarida.
Teus sacrifícios e carinho
eu vejo nesse caminho,
que, vai do presente ao passado
e, que andamos lado a lado.
Recordo-os neste momento, mãezinha;
em que, na pobre rima minha,
meu coração te oferece
todo o amor que alberga,
e o teu, mais terno, merece.


M. Canhoto

domingo, dezembro 24, 2006

O NATAL DA INFÂNCIA

Ah como se alongava a província Natal
com distritos de luz dentro do Novo Ano
Vinha já de mais longe um perfume lunar
Começava em Novembro a toilette dos Anjos

No mapa da Europa a Suiça a Suécia
ganhavam posições de repente invejáveis
Andava-se na rua à procura de neve
A neve dos postais arquivava-se em casa

E brincava connosco o menino Jesus
mesmo antes da noite em que tinha nascido
Mas ninguém se atrevia a tratá-lo por tu
Era de todos nós o menino mais rico

As prendas que nos dava E fingia-se pobre
Adorávamos nele o amor do teatro
o dom de liberdade e da metamorfose
Sorríamos de quem nos dissesse o contrário.

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, dezembro 21, 2006

SONETO

IV

Quem disse que o silêncio não falava,...
E que a própria soidão não tinha voz ?
Mais forte que o rumor que nos cercava,
Eu ouvia clamar junto de nós .

Em toda a parte em que o olhar pousava,
Que desencanto... que abandono atroz !
Uma saudade em tudo soluçava...
E a memória a esmiuçar, como um algoz !

Então, da magestade do Silêncio,
Sombra querida que eu em vão buscava,
Vem desafiar o meu pesar, e vence-o...

A sombra tutelar dos meus Avós,
Quem disse que o silêncio não falava,...
E que a própria soidão não tinha voz?...

Lisette Villar de Lucena Tacla

quarta-feira, dezembro 20, 2006

ESPERANÇA


Senti palpitar meu coração desfeito
que há muito encerrava a nostalgia,
tão harmoniosamente, com tão suave jeito
que senti renascer minha alegria.

Do longo inverno rompeu a Primavera ...
Vi as rosas no jardim abrindo
vi a minha vida renascer, sem ser quimera
e nas flores escrevi teu nome lindo.

E ao escrevê-lo assim, tenho a certeza
nenhuma morte o teu nome em mim apaga.
E na minh'alma ainda indefesa
cresce a esperança que me afaga !


Manuela Mourão

segunda-feira, dezembro 18, 2006

CONSUELO

Os teus lábios, cetim rubro,
Que eu envolto em afagos,
Não sei que n'eles descubro
Nos seus sorrisos tão vagos !

E penso, e vou indeciso
Olhando-os a cada instante
Como se a luz que diviso
Me dissesse, oh ! minha amante !
Que há n'eles um paraíso !


António Aurélio

sexta-feira, dezembro 15, 2006

BOAS FESTAS _ FELIZ NATAL


Estamos no mês de Dezembro de 2006. Vivo num país, por tradição católico, embora se professem outras religiões. Quero desejar a todas as pessoas existentes no Mundo, um FELIZ NATAL com muita felicidade, e que o ANO NOVO de 2007, seja para todos, o melhor ANO da sua VIDA, e que os anos vindouros ainda sejam melhores.
A NATIVIDADE

No seu fojo do Líbano dormita,
De olhar semicerrado, um lobo enorme,
Mas, a espaços, qualquer coisa o agita,
E lhe arrepia o corpo, enquanto dorme...

Já por três vezes o ouvido esperto
(Que esse não dorme em fera astuta e velha...)
Como que adivinhou, num som incerto,
O balido longínquo duma ovelha...

Seria um som, apenas, o que ouviu?
E, erguendo-se nas patas de repente,
Do fojo escuro e fétido saiu,
E pos-se a olhar em roda atentamente...

E, logo, uma ovelhinha desgarrada,
Que ao largo anda a tosar ervas macias,
Se fica, estarrecida, hipnotizada,
Julgando findos os seus poucos dias...

E o lobo para ela vai correndo,
De olhos acesos como dois carvões,
Enorme, ossudo, sanguinário, horrendo,
Aos pulos, aos ressaltos, aos galões...

Um curto passo, mais um curto instante,
E aí pobrezinha, pobrezinha dela !
Já sente os bafos duma goela hiante,
E já o olhar, de medo, se lhe vela !...

Porém, na fúria da veloz carreira,
O lobo estaca, fica ao chão pregado !
...E apaga-se-lhe a ira carniceira !
...E adoça-se-lhe o olhar ensanguentado !

O que o detém ali? Não compreende,
Por mais que active o seu pensar nevoento...
Só sabe e sente que uma força o prende,
Num dominante e doce encantamento;

Só sabe e sente que essa força estranha,
Tendo a energia hercúlea dum gigante,
É suave e mansa como o luar que banha,
Por alta noite, algum casal distante...

E, no seu vago meditar de fera,
Cogita e pensa enevoadamente
Na causa estranha e nova que pudera
Torná-lo quieto e manso de repente ...

E a si próprio pergunta, enquanto o som
Da ovelhinha, a balir, se apaga e some:
_Que milagroso Bem me tornou bom
A mim que sou um lobo e tenho fome?
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Naquela tarde, àquela mesma hora,
Nascia, em Nazaré , Nossa Senhora.

Augusto Gil

sábado, dezembro 09, 2006

WILLIAM SHAKESPEARE

AO SEU AMOR

Poderei comparar-te a um dia de Verão ?
Mas tu és mais suave e muito mais formosa;
Em Maio a ventania sacode os botões de rosa
E o Estio tem apenas uma curta duração;

O fogo celeste queima-nos com o seu ardor,
Ou o seu brilho dourado perde o seu fulgor;
E todas as formosas um dia perdem a beleza
Por acaso, ou pelas mudanças da natureza.

Mas o teu eterno Verão não se desvanecerá
Nem a beleza de que és devedora ele perderá;
Nem a Morte de ti na sua sombra se há-de gabar,

Quando nos desígnios eternos a tua vez chegar.
Enquanto os homens viverem, enquanto os olhos virem,
Isto não tem fim e é isto que te dá vida.

WILLIAM SHAKESPEARE
(tradutor desconhecido)

---------º--------------
Comparar-te a um dia de Verão?
Tens mais doçura e mais amenidade:
Flores de Maio, ao vento rude vão
Como o Estio se vai, com brevidade:

O Sol às vezes em calor se exalta
ou tem a essência de oro sem firmeza
É o que é formoso, à formosura falta,
Por sorte ou por mudar-te a natureza.

Mas teu Verão eterno brilha a ver-te
Guardando o belo que em ti permanece,
Nem a morte rirá de ensombrecer-te,

Quando em verso imortal, no tempo cresces.
Enquanto o homem respire, o olhar aqueça,
Viva o meu verso e vida te ofereça.

WILLIAM SHAKESPEARE
(tradução de Jorge Wanderley)


-------------º--------------

Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate:
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date:

Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimmed;
And every fair from fair sometimes declines,
By chance or nature's changing course untrimmed.

But thy eternal summer shall note fade,
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall death brag thou wander'st in his shade,

When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe, or eyes can see,
So long live this, and this gives life for thee.

WILLIAM SHAKESPEARE
(23/04/1564_23/04/1616)
http://pt.wikipedia.org/wiki/William_Shakespeare

sábado, dezembro 02, 2006

OS GEMIDOS DA ÁRVORE


A Árvore, em pé, no meio das planuras,
cheia de riso e flor, verduras,passarinhos,
_Ela é o guarda-sol dos frutos e dos ninhos.
_É o rectro nupcial das conversadas puras.

O humilde cavador que foiça as ervas duras
dos broncos matagais e escalrachos maninhos,
sob ela faz o seu leito, ao cruzar os caminhos,
torrada da soalheira ou nas sombras escuras.

Contudo, o Homem ingrato esquece a árvore amiga,
e prefere a Cidade e a balbúrdia inimiga,
onde a alma corrompe em orgias triviais.

Mas a Árvore lá fica, a espreitar nas ramadas
como a mãe lacrimosa, a olhar sempre as estradas,
_ a ver se o filho volta à cabana dos pais !

Gomes Leal

sexta-feira, dezembro 01, 2006

FEDERICO GARCIA LORCA


A GUITARRA

Começa o choro
da guitarra
Quebram-se os copos
da madrugada.
Começa o choro
da guitarra.
É impossível calá-la.
Chora monótona
como chora a água,
como chora o vento
sobre a nevada.
Chora por coisas
distantes.
Areia quente do sul
pedidndo camélias brancas.
Chora flecha sem alvo,
a tarde sem manhã
e o primeiro pássaro morto nas ramadas.
Oh guitarra!
Coração malferido
por cinco espadas.
................................................................

LA GUITARRA

Empieza el llanto
de la guitarra.
Se rompen las copas
de la madrugada.
Empieza el llanto
de la guitarra.
Es inutil callarla.
Llora monotona
como llora el agua,
como llora el viento
sobre la nevada.
Es imposible callarla.
Llora por cosas lejanas.
Arena del Sur caliente
que pide camelias blancas.
Llora flecha sin blanco,
la tarde sin manana,
y el primer pajaro muerto
sobre la rama.
O guitarra !
Corazon malherido
por cinco espadas.



http://pt.wikipedia.org/wiki/Federico_García_Lorca