A flor mais negra que em jardins viceja,
Suave e triste, que se esquiva à luz,
Deram-lhe um mágico e sublime nome __
O da saudade que o sentir traduz.
em terras áridas que a plantem, vive,
Sem ter cultura a vigorar cresceu ;
Roubada ao tronco que a nutriu, não murcha,
Nem perde a cor que do pesar nasceu.
Mais bela ainda a reviver se mostra,
Com langudêz no doce aspecto escrita ;
Brando o perfume, suaviza o pranto
Que absorve e colhe, quanto mais o excita.
E sem ter brilhos de esmaltadas cores
É da amizade, simpatia, amor,
Supremo encanto que em tributos paga
Honra à memória na tristeza e dor.
Acha-se às vezes do cipreste à sombra
E ali os vivos a chorar conduz ;
Vê-se das lousas entre a hera e goivos
Presa nos braços da marmorea cruz.
Diz a saudade os sentimentos vários
Que a mágoa nutre e que o prazer nos dá ;
Pendida, lúgubre, atormenta e aflige,
Suave e meiga, suspirar fará.
Exprime quantas afeições e esp'ranças
Um peito guarda nos mistérios seus ;
Levanta o véu que um pensamento encerra
Na muda prece que se eleva a Deus.
O gelo e o vento que outras murcha e seca,
Fanar não pode tão modesta flor ;
O que elas todas reunindo exprimem,
Não vale o que esta só dirá d'amor.
Não vale ! ai ! não ! nem a beleza d'essas,
Se iguala àquela de tão simples graça,
Nem mesmo a rosa que a vaidade ostente
Na cor e aroma que encantar nos faça.
A rosa é frágil, seu reinado é curto,
E à mão das damas vai rival morrer,
Quando na sala ao doudejar das valsas
No chão perdida vai pisada ser.
E morre e a dama que a levara ao baile,
D'ela esquecida a conversar sorri ;
Rainha fora nos jardins mais belos,
Escrava humilde se abatera ali.
Mas a saudade que o respeito infunde,
Não vem das festas figurar à luz ;
Vive nos peitos escondida e triste,
E ao pé das campas onde alveja a cruz.
Francisco Serra