sábado, novembro 11, 2006

DE TARDE

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol so via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.

Cesário Verde
1855-1886

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Belas figuras, Manuel!!
Bom fim de semana! Beijus

12:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Como sabe bem ler, neste dia cinzento, um poema que me faz lembrar a Primavera e as suas cores e perfumes!

Beijo grande.

4:09 da tarde  
Blogger esse said...

E o encantamento surge nas coisas mais simples!!

Abraço

11:41 da tarde  

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