domingo, outubro 18, 2015

CANTAR DE AMIGO

Bailada, bailia
que eu já sei bailar.
E agora só queria
aprender a amar.
   
Ao entrar na roda,
soltou-se-me a liga.
E agora há quem diga
que não foi na roda.
     
Bailada, bailia
que eu já sei bailar.
E agora só queria,
mas não posso, amar.
     
     Fernanda Botelho

quarta-feira, outubro 14, 2015

VÉU

Somos seres oblíquos,
tementes da luz
que não seja reflexo.
Por isso a Beleza é para nós
antes o véu de sombra em que se oculta.
    
      
Anderson Braga Horta

quinta-feira, outubro 01, 2015

NO SILÊNCIO MONACAL

Eis, no silêncio monacal, um frémito
De borboletas... Lá de longe em longe,
Sobre a encantada placidez do tanque,
Serenamente caem gotas de água.
     
Ah! Não podermos suspender o tempo
E conservá-lo, como o fino orvalho
Imóvel neste cálice de rosa...
Ah! Não podermos suspender a vida!
     
Seremos como as estátuas sombrias
Que ficaram, nos cantos dos jardins,
Ou como as altas torres onde, a espaços,
Voam morcegos, ao morrer do sol!
     
Eis, no silêncio monacal, um frémito
De borboletas... Como é noite já!
De velha, a água enruga-se num poço...
Tomba do cális, sobre a terra, o orvalho.
     
       João Cabral do Nascimento