sábado, maio 23, 2015

EM VILA VIÇOSA

(À memória de Florbela Espanca)

Senti, sob os meus pés, a terra quente
Que cantaste com zelo arrebatado!
O teu verso foi sempre chama ardente
De um terno coração apaixonado...

Senti, numa ternura comovente,
Que vibravas, uníssona, ao meu lado
Nesse Paço Ducal, sóbrio, imponente,
Que o meu olhar hauria deslumbrado,

Descuidada e feliz segui contigo,
Pelos campos de trigo, já ceifado,
Descansamos depois, pedindo abrigo

Á sombra dum sobreiro ensanguentado...
Numa curva da estrada __ muito branca __,
Tu disseste-me: «Adeus»... Florbela Espanca.
 

        
Lisette Villar de Lucena Tacla

http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

quinta-feira, maio 14, 2015

O SECRETO DESEJO

Um desejo feito de asa
Ou de leve brisa acesa
Entrou-me de noite em casa
E achou minh'alma indefesa.
 
(O secreto desejo
É mais leve que o vento.)
 
Lutaram por longas horas
Até vir a madrugada.
Ao fim dessas longas horas
Minh'alma foi derrotada.
 
(O secreto desejo
É mais ágil que a espada.)
 
Passou a viver em mim,
Fechado como num cofre,
A tentar ser ele o fim
Pelo qual minh'alma sofre.
 
(O secreto desejo
É mais forte que a morte.)
  
               Luís de Macedo

domingo, maio 03, 2015

DÍVIDA DE AMOR

Se me fosse possível comparar
O amor que recebi com o que dei,
Veria certamente __ eu bem o sei __
Que se hão-de as duas partes compensar.
    
Não que tivesse a dita de lograr
Sempre, um amor igual, dos que eu amei;
Mas também, compensando, __ justa lei !__
Nem sempre o alheio amor pude igualar.
     
Uma dívida só tenho impagável
A qual é para mim o maior bem,
Dívida infinda, enorme, inigualável ;
     
Pois nunca poderei dar a ninguém
Um afeto que seja comparável
A' quele amor que eu devo a minha mãe !
     
          J. C. Mendes Júnior