POEMA DOS TEXTOS
Dobrados sobre os textos
deslizam devagar o dedo indicador
nas brancas entrelinhas.
A ruga entre os sobrolhos denuncia
o concentrado esforço.
São séculos de leitura, perseverante e atenta,
que os lábios em silêncio reproduzem
e as barbas com tremuras sintonizam.
Chegado ao fim, o dedo retrocede
e regressa ao princípio,
de novo sublinhando o texto, cauteloso.
Pára na dúvida, e o rosto se confrange
no sempre nebuloso entendimento.
Onde se lê «cordeiro» não é cordeiro;
onde fala em «pastor» não é pastor;
e o grão que foi cair na berma do caminho,
pisado pelos pés e comido p´las aves,
não era grão, nem existiam aves,
nem os pés o pisaram, nem sequer
o caminho existia.
O mistério persiste, emoliente e arteiro,
p´ra que vendo não vejam, e ouvindo não entendam.
Que significará o pão, o vinho, o peixe, e escorpião, a cinza?
Que significará «meus amados irmãos»?
Que quererá dizer «amai-vos uns aos outros»?
Antonio Gedeão
deslizam devagar o dedo indicador
nas brancas entrelinhas.
A ruga entre os sobrolhos denuncia
o concentrado esforço.
São séculos de leitura, perseverante e atenta,
que os lábios em silêncio reproduzem
e as barbas com tremuras sintonizam.
Chegado ao fim, o dedo retrocede
e regressa ao princípio,
de novo sublinhando o texto, cauteloso.
Pára na dúvida, e o rosto se confrange
no sempre nebuloso entendimento.
Onde se lê «cordeiro» não é cordeiro;
onde fala em «pastor» não é pastor;
e o grão que foi cair na berma do caminho,
pisado pelos pés e comido p´las aves,
não era grão, nem existiam aves,
nem os pés o pisaram, nem sequer
o caminho existia.
O mistério persiste, emoliente e arteiro,
p´ra que vendo não vejam, e ouvindo não entendam.
Que significará o pão, o vinho, o peixe, e escorpião, a cinza?
Que significará «meus amados irmãos»?
Que quererá dizer «amai-vos uns aos outros»?
Antonio Gedeão