sexta-feira, abril 13, 2018

FONTE DOS AMORES

Ó água triste, não chores,
Vai devagar, devagar...
Que ela não cuide que choras
Porque me viste chorar !
       Ai não soluces tão alto
       Ó fonte do seu caminho !
       Ágoa chorosa e romântica ,
       Fala mais devagarinho...
Não digas nessa toada
Melancolias às flores :
Ó fonte vai sossegada,
Nunca lhes fales d'amores.
       Não contes o que me ouviste,
       O que te estive a dizer...
       Sê contente, água romântica,
       Que ela o não venha a saber !
Olha as minhas mãos ardentes,
Refresca-as, fonte amorosa !
Olha os meus olhos vermelhos...
É de rir, água chorosa !
       Ó água triste, cautela ,
       Vai devagar, devagar...
       Que ela não pense que choras
       Porque me viste chorar !
     
                      Júlio Brandão

 

domingo, abril 01, 2018

MEL E FEL

Amores são enxames de desejos,
Que em tenros corações estão zumbindo
E vão, na idade em flor, no campo lindo,
Trocar por doce néctar doces beijos.
     
Do meu cortiço vácuo, triste vejo-os
Do colmeal alheio vir saindo
E nas eleitas flores ir haurindo
O tão incerto mel dos seus festejos.
     
Mas, pois o zangão vil vos rompe e come
Os deliciosos favos, ou, cruel,
O crestador virá que vo-los tome,
     
Incautas abelhinhas, vosso mel
Lograi enquanto é mel, porque o só nome
Já duas terças partes tem de fel.
       
       Emídio Gomes dos Reis