SONETO
Quem no mundo não tem uma
ilusão,
Quem a terra não sente
estremecer,
E nas fragas bater um
coração,
Quem nas fontes só água vê
correr,
Terá uma vida calma, sem
acção,
Qual onda sem desejo de
crescer;
Qual estrela sòmente
escuridão,
Que nenhuns olhos tristes podem
ver.
Eu quero as tempestades do
oceano,
Sentir, no peito, o fogo
lusitano;
A dor da vida, em mim, quero
sentir!
Quero a branda tristeza na
alegria,
No sol nascente a definhar do
dia,
Na sombra escura, a luz que há-de
surgir!
Maria de
Carvalho