domingo, outubro 23, 2011

HOMENAGEM P'RALAMENTAR

No parlamento cheira mal a peixe podre,
e a fétida carne morta em putrefação...
...e os abutres passam o tempo a devorar,
o que resta das carcaças da nação...
e apenas uns quantos, poucos, que lá estão,
e se recusam a juntar à rapinagem,
como podem, vão fugindo da pilhagem,
comprovando que a regra tem excepção!
São poucos, mas, mesmo assim, resistem
à fraqueza que é o fácil, e à tentação!!!
Para esses a minha singela homenagem,
Para os outros, veemente contestação!!!


Duarte Arsénio

poema retirado do livro REFLEXOS DO MEU SENTIR
Pag. 56,
Editora; EDIUM Editores

quinta-feira, outubro 13, 2011

HEROÍSMOS

 Eu temo muito o mar, o mar enorme,
Solene, enraivecido, turbulento,
Erguido em vagalhões, rugindo ao vento;
O mar sublime, o mar que nunca dorme.

Eu temo o largo mar, informe,
De vítimas famélico, sedento,
E creio ouvir em cada seu lamento
Os ruídos dum túmulo disforme.

Contudo, num barquinho transparente,
No seu dorso feroz, vou blasonar,
Tufada a vela e n'água quase assente,

E ouvindo muito ao perto o seu bramar,
Eu rindo, sem cuidados, simplesmente,
Escarro, com desdém, no grande mar!

Cesário Verde

sábado, outubro 08, 2011

FÁBULA ANTIGA

No princípio do mundo o Amor não era cego;
Via mesmo através da escuridão cerrada
Com pupilas de Lince em olhos de Morcego.

Mas um dia, brincando, a Demência, irritada,
Num ímpeto de fúria os seus olhos vazou;
Foi a Demência logo às feras condenada,

Mas Júpiter, sorrindo, a pena comutou.
A Demência ficou apenas obrigada
A acompanhar o Amor, visto que ela o cegou,

Como um pobre que leva um cego pela estrada.
Unidos desde então por invisíveis laços,
Quando o Amor empreende a mais simples jornada,
Vai a Demência adiante a conduzir-lhe os passos.

António Feijó