domingo, março 29, 2009

AURORA

A poesia não é voz _ é uma inflexão.
Dizer, diz tudo a prosa. No verso
nada se acrescenta a nada, somente
um jeito impalpável dá figura
ao sonho de cada um, expectativa
das formas por achar. No verso nasce
à palavra uma verdade que não acha
entre os escombros da prosa o seu caminho.
E aos homens um sentido que não há
nos gestos nem nas coisas:

voos sem pássaro dentro.


Adolfo Casais Monteiro


http://pt.wikipedia.org/wiki/Adolfo_Casais_Monteiro

sábado, março 21, 2009

PRIMAVERA

Faz hoje um lindo sol peninsular,
É o dia mais bonito dos deste ano
Encanta a vista a transparência do ar
E o céu é dum azul napolitano.

Um galho de roseira florescente
Que a aragem faz bater-me na janela
Parece mesmo estar chamando a gente
E oferecer o aroma, os botões dela ...

Ergo a vidraça à luz fulgente e amiga,
Colho uma rosa meio aberta e branca
Coloco-a em água numa jarra antiga
E ponho a jarra sobre a minha banca;

Mal na mesa a coloco dá-se um caso
Que é de gerar o mais estranho enlêvo:
A rosa debruçada sobre o vaso,
Vai perfumando e lendo o que eu escrevo ...

Do canto, onde trabalho, vê-se o rio
Através dos chorões curvos das margens,
Seguir pausado, como um rei sombrio
Por dupla fila de inclinados pagens.

E aquela massa de águas, alterosa,
E na doce paisagem, destoante
Como, numa boceta leve e airosa,
Um verso austero do Divino Dante;

Porque é um terno idílio tudo o mais,
Porque é tudo o restante ingénuo e ledo
A virginal brancura dos casais,
O verde tenro e novo do arvoredo.

Nas hortas e valados, nos caminhos,
Cruzam-se vozes límpidas cantando,
Vozes de melro no himeneu dos ninhos,
Notas alegres como um vinho brando ...

E a ondulação das searas, onde os meus
Olhos alongo, num degrau da serra,
Lembra-me as invisíveis mãos de Deus
Acariciando as produções da terra.

Augusto Gil

CONTRASTES (A PRIMAVERA)


Vem assomando além, festiva, a primavera,
recamada de luz, de pérolas toucada.
O rosmaninho exorna o vale e a cumeada ;
nas ruínas verdeja a parietária e a hera ;

a amendoeira em flôr, noiva gentil, espera
o orvalho cristalino, o beijo da alvorada ;
o sol vai abraçar a terra enamorada ;
acorda para o amor o rouxinol e a fera !

Mas...? que me importa a mim a natureza em festa ?
se um vento regelado as ilusões me cresta !
se nuvem tempestuosa o meu deserto cinge !

se a ventura, que eu sonho, em meu casal não mora
se te não vejo nunca, ó inspirada aurora !
se não queres ouvir-me, ó suspirada esfinge !

Candido de Figueiredo

quinta-feira, março 05, 2009

A TI... MULHER

Ontem, hoje e amanhã, procuradas
A acalentarem os humanos do futuro
Orientar estradas de vida despejadas
As ervas daninhas ramificadas no muro!

E, nas nulheres, a seiva espalharam
Do seu ventre, sairão os julgadores
No mundo de vis guerras, crepitaram
Na esperança da vinda do salvador!

Crédulas, secam suadamente o tempo
Entregues ao amor dos homens e filhos
Esquecem a sua existência sem lamento
Na certeza porém de afastar os trilhos!

Da clareza da intuição, afastam castigos
Num aclamar exaltado, gritam às nações
Nas suas vozes são denunciados perigos
Para que não hajam lágrimas de paixôes!

Dia 5 de Março de 2009
Maria Valadas

http://ecosdepalavras.blogspot.com/