domingo, dezembro 30, 2007

ANO NOVO

Ano Novo _ urna cheia de ilusões
inebriando a alma de toda a gente !
Bendito anseio, pleno de emoções,
dos que andam neste mundo tristemente !

Ano Novo _ revoada de ambições,
perpassando em cortejo aurifulgente !...
Mistérios do Porvir, cintilações
bem longínquas na vida do presente !...

Ano Novo!... Porquê? __ Louco pensar !
__Se a vida é a mesma __ íngreme ladeira,
onda revolta de um picado mar !

Ano Novo!... Talvez desta maneira:
A Dor a renovar-se sem parar
neste mundo já velho de canseira!

Alfredo Lobato de Faria

terça-feira, dezembro 25, 2007

O MEU NATAL


A noite de Natal. Em meu País, agora,
O que não vai até romper o dia, a aurora !
As mesas de jantar na cidade e na aldeia,
à luz das velas, ou à luz duma candeia,
Entre risadas de crianças e cristais
(De que me chegam até mim só ais, só ais !).
Dois milhões de almas e outros tantos corações,
Pondo de parte ódios, torturas, aflições,
Que o mel suaviza e faz adormecer o vinho:
São todas em redor de uma toalha de linho !

António Nobre

domingo, dezembro 23, 2007

NATAL

Numa das mais cruéis e agrestes manjedouras
Nasceu Cristo, o maior filósofo do mundo.
Houve naquela noite um júbilo profundo
Dos crentes do Senhor das gerações vindouras.
.
Um anjo azul-turquesa e de madeixas louras
Revelou aos pastores, dentro dum segundo,
Que chegou o Salvador prometido e fecundo
Para remir os homens com mãos redentoras.
.
A notícia invadiu logo a cidade inteira,
E as perseguições não tardaram ao menino.
Obrigando-o a fugir já pela vez primeira.
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Desde muito pequeno, aquele grande vulto
Ministrava no Templo o seu saber divino,
Dando razões da vida de tão belo culto !
.
Enéas de Lima

sexta-feira, dezembro 21, 2007

INVERNO

Venceu o frio. Heróico, na campanha,
gastou o Sol os últimos arrancos,
e do Inverno os soldadinhos brancos
caem do Céu e descem da montanha.

Linda de ver, alvura assim tamanha
da alta serra contornando os flancos!
E a Neve enche as ravinas e os barrancos,
vitoriosa, luminosa, estranha.

Ah! Natureza, vais sofrer deveras,
o Inverno veio; mas ainda esperas
que chegue outro Verão, um dia, breve;

e a nós toda a esperança se nos nega,
e a cada coração onde ele chega
não torna o Sol que lhe desfaça a Neve.

Matos Sequeira

segunda-feira, dezembro 10, 2007

ASPIRAÇÃO INÚTIL

Ah ! se a mocidade fosse
Comprida... muito comprida...
E toda ela vivida
Num beijo doce, mui doce...
Como ditosa era a vida !
.
Mas dura o dia, que a trouxe;
Passa por nós, de corrida;
Some-se, apenas nascida;
Chega amanhã... e acabou-se !...
E, não mais, volta na vida.
.
Fernandes Costa

sábado, dezembro 01, 2007

A CARTA

Vem o carteiro além, ao fim da rua.
_É carta que me envias, com certeza.
Dissipa-se esta nuvem de tristeza
e um outro ar junto de mim flutua !

Tão devagar ! Mas que demora a sua !
Esperar ! Que ansiedade e que incerteza !
Já estou a ver a tua letra inglesa
e que aos meus olhos tanto se insinua.

E o carteiro? !... Onde está?... Já não o vejo !
Lá vem ele outa vez: __Mais um lampejo
a acariciar o meu mortal anseio.

Chega, enfim ! Coração, porque te espantas?
Só espero uma carta e vêm tantas !
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E, afinal, só a tua é que não veio !

Espínola de Mendonça