sábado, dezembro 20, 2014

TAL VEZ

Tal vez sea todo culpa de la nieve
que prefiere otras tierras más polares,
lejos de estos trópicos.
     
Culpa de la nieve, de su falta,
__ la falta que nos hace
cuando oculta sus copos y no cae,
cuando pospone, sin abrirlas, nuestras cartas.
     
Tal vez sea culpa de su olvido,
de nunca verla en estas calles
ni en los ojos, los gestos, las palabras.
Tantas cosas dependen noche e día
de su silencio táctil.
     
Nuestro viejo ateísmo caluroso
y su divagación impráctica
quizá provengan de su ausencia,
de que no caiga i sin embargo se acumule
en apiladas capas de vacío
hasta borrarnos de pronto los caminos.
     
Sí, tal vez la nieve,
tal vez la nieve al fin tenga la culpa...
Ella y los paisages que no la han conocido,
ella y los abrigos que nunca descolgamos,
ella y los poemas que aguardan su página blanca.
     
              Eugénio Montejo 

sexta-feira, dezembro 19, 2014

SONETO

Um de meus bisavós foi mercador,
Outro foi de alfaiate oficial,
Outro tendeiro foi, sem cabedal;
E outro, que juiz foi, foi lavrador.
     
O meu paterno avô foi professor
De latim que ensinou ou bem ou mal,
E o avô materno viveu no seu casal,
De que inda agora mesmo sou senhor.
     
Meu pai médico foi, homem de bem,
Minha mãe «dom» teria, porque, enfim,
Muitas menos do que ela agora o têm.
     
Abade eu fui, e se saber de mim
Alguma coisa mais quiser alguém,
Saiba que versos faço, e os faço assim.
      
                 Eugénio Sílio Peixoto
      
Ribeira Grande (Ilha de S. Miguel)

quinta-feira, dezembro 11, 2014

O CÉU É FUNDO

O  céu é fundo e claro como um lago.
   Ébrio de fresco vinho e sol candente,
   no fértil campo que uma fonte banha,
   com mãos e boca ávidas me entrego
   à colheita dos frutos perfumados.

           Armindo José Rodrigues

sábado, dezembro 06, 2014

HISTÓRIA DO CASAMENTO

Dois entes que se desejam,
Duas caras que se engraçam,
Duas bocas que se beijam,
Quatro braços que se abraçam ...
     
Duas almas que se atraem,
Dois destinos que se prendem,
Duas vidas que se esvaem ...
... Dois tolos que se arrependem.
     
          M. A. d'AMARAL    

quarta-feira, dezembro 03, 2014

MEDALHA DE PALAVRAS

De propósito

terça-feira, dezembro 02, 2014

O BEIJO

À minha amada, na praia,
dei um beijo a sós e a medo ;
mas a onda que desmaia
descobriu este segredo.
     
E às outras logo contando
o beijo que me viu dar,
foi de onda em onda passando
o meu segredo a cantar.
     
Treme ansioso o teu seio,
E eu,  pálido de temor,
que todo o mar anda cheio
de aquele beijo de amor !
    
         Afonso Lopes Vieira