EM DEMANDA DA VENTURA
Com diamantes nos dedos, recostado
Num automóvel de faustoso brilho,
Subitamente vejo, do meu trilho,
Pobre casal num ermo desolado.
No portal, p'las videiras sombreado,
Descalça mãe dá de mamar ao filho,
E o pai na fresca leira rega o milho,
De barba hirsuta, semi-nu, curvado.
À cata de ventura, cada artéria
Pulsa em mim; e em negríssima miséria
Aquela gente aguarda em paz a morte!
Mas, nisto, ao cavador que rega o chão
Vontade tenho de bradar: __«Irmão,
Queres trocar comigo a tua sorte?»
Eugénio de Castro