quarta-feira, março 28, 2012

FOSFORESCÊNCIA

Nem sei o que é, nem sei... fosforescência,
luz que se fez sereia por demência.


Saudade dos marujos em viagem,
vinda de longe: lúcida romagem.


Puro sonho do mar que quer ser luz
e em lágrimas de íris se traduz.


António Patrício

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Patr%C3%ADcio

quarta-feira, março 21, 2012

SILÊNCIO TRÁGICO

A faina principiou de manhã cedo,
manhã de Junho, quente, abafadiça,
os machados, na arranca da cortiça,
rasgam de cima a baixo o arvoredo.

E o sobreiral vetusto, no segredo
das trágicas paixões, na dor submissa
dos vegetais, dir-se-à que se espreguiça
num êxtase espectral de espanto e medo.

Mas quando ao fim da tarde olho o montado
e vejo em carne viva, ensaguentado,
o velho sobreiral, sinto que encerra,

na tortura sem voz dos infelizes,
a dor que vai do tronco às raízes
chorar, gritar no âmago da terra !

Conde de Monsaraz

http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Monsaraz

domingo, março 11, 2012

ÁRVORES DO ALENTEJO

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
a planície é um brasido,... e, torturadas,
as árvores sangrentas, revoltadas,
gritam a Deus a benção duma fonte.

E quando, manhã alta, o sol pesponte
a oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
esfíngicas, recortam desgrenhadas
os trágicos perfis no horizonte !

Árvores ! Corações, almas que choram,
almas iguais à minha, almas que imploram
em vão remédio para tal mágoa !

Árvores ! Não choreis ! Olhai e vede:
__também ando a gritar, morta de sede,
pedindo a Deus a minha gota de água !

Florbela Espanca

http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

http://estrolabio.blogspot.com/2010/05/florbela-espanca-1894-1930-suicidios.html

quinta-feira, março 08, 2012

8 de MARÇO 2012



“A partir de 1922, o Dia Internacional da Mulher é celebrado oficialmente no dia 8 de Março.



Essa história perdeu-se no registo histórico oficial tanto do movimento socialista, como dos historiadores daquele período. Faz parte do passado histórico e político das mulheres e do movimento feminista de origem socialista do começo do século [XX].



Algumas feministas europeias na década de 70, por não encontrarem referência concreta às operárias têxteis mortas num incêndio em 1857, em Nova York, chegaram a considerá-lo um facto mítico. Mas essa hipótese foi descartada diante de tantos factos e eventos vinculando as origens do Dia Internacional da Mulher às mulheres americanas de esquerda.



Quanto aos elos perdidos dos factos em torno do dia 8 de Março levantam-se várias hipóteses em busca de mais aprofundamento.



É certo que nos EUA, em Nova York, as operárias têxteis já vinham denunciando as condições de vida e trabalho e já faziam greves . Esse momento de organização das trabalhadoras faz parte de todo um processo histórico de transformações sociais que colocaram as mulheres em condições para lutar por direitos, igualdade e autonomia participando no contexto social e político que motivou a criação de um dia de comemoração que simbolizasse as suas lutas, conquistas e necessidade de organização. É preciso, pois, entrelaçar os fios da história deste período.



Por conseguinte, há um relato que precisa de ser verificado nas suas fontes documentais, sintetizado por Gládis Gassen (num texto para as trabalhadoras rurais da FETAG), que nos indica que em Março de 1911, dezoito dias após o Dia da Mulher, e não em 1857, "numa mal ventilada fábrica de têxteis que ocupava os 3 últimos andares de um edifício de 10, na Triangle Schirwaist Company, em New York, estalou um incêndio que envolveu 500 mulheres - jovens, judias e imigrantes italianas - que trabalhavam em condições precárias, com o assoalho coberto de materiais e resíduos inflamáveis, o lixo amontoado por todas a parte, sem saídas em caso de incêndio, nem mangueiras para água... Para impedir a interrupção do trabalho, a empresa trancava à chave a porta de acesso à saída.



Quando os bombeiros finalmente conseguiram chegar aos andares onde estavam as mulheres, 147 já tinham morrido, carbonizadas ou estateladas na calçada da rua, para onde se atiraram em desespero. Após esta tragédia criou-se em Nova Iorque a Comissão Investigadora de Fábricas que já tinha sido solicitada há 50 anos! Foi assim que se iniciou a história da legislação de protecção da vida e da saúde. A líder sindical Rosa Schiederman organizou a presença de 120 mil trabalhadoras no funeral daquelas operárias para expressarem o seu lamento e declararem solidariedade para com todas as mulheres trabalhadoras".



Assim, embora seja necessário continuar a procurar memórias perdidas, é certo que todo um ciclo de lutas, numa era de grandes transformações sociais até às primeiras décadas do século XX, tornaram o Dia Internacional da Mulher um símbolo da participação activa das mulheres para transformarem a sua condição e a transformarem a sociedade.



Celebramos então, anualmente, tal como as nossas antecessoras o fizeram, as nossas iniciativas e conquistas, fazendo o balanço das nossas lutas e actualizando a nossa agenda de lutas pela igualdade entre homens e mulheres e por um mundo onde todos e todas possam viver com plenamente e com dignidade.



(Extractos de um artigo de SOF - Sempreviva Organização Feminista )











Passaram cem anos desde que Clara Zetkin propôs o dia 8 de Março como Dia Internacional da Mulher,







aquando da II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas.





Clara Zetkin



(1857-1933)

quinta-feira, março 01, 2012

NINHOS

Procura um melro voando
A balseira onde se acoite.
Aves que passam em bando
Todo o dia andam cantando
E os rouxinóis toda a noite.

Cantigas que são carinhos
Lhes inspira a primavera.
Tempo de amores e ninhos!
Madrigais de passarinhos
Quem traduzir-t'os soubera.

D. João da Camara

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/jcamara.htm