SILÊNCIO TRÁGICO
A faina principiou de manhã cedo,
manhã de Junho, quente, abafadiça,
os machados, na arranca da cortiça,
rasgam de cima a baixo o arvoredo.
E o sobreiral vetusto, no segredo
das trágicas paixões, na dor submissa
dos vegetais, dir-se-à que se espreguiça
num êxtase espectral de espanto e medo.
Mas quando ao fim da tarde olho o montado
e vejo em carne viva, ensaguentado,
o velho sobreiral, sinto que encerra,
na tortura sem voz dos infelizes,
a dor que vai do tronco às raízes
chorar, gritar no âmago da terra !
Conde de Monsaraz
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_de_Monsaraz
3 Comments:
Um bom poema, para comemorar este dia que se convencionou ser de homenagem à poesia.
Um abraço e tudo de bom.
Bela poesia para comemorar este dia !
Conseguiste fazer uma poesia duma emoção que sinto quando vejo estes árvores a nu.
Foste passear no meu "Coffre" que tem estado um pouco abandonado. Obrigada pela tua passagem.
Beijinhos
Verdinha
isto é do Conde de Monsaraz
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