quinta-feira, agosto 08, 2013

ELEGIA ABSTRACTA

Os sinos tocam como na minha terra; o campo
é verde, o mar, menos azul talvez:
como um corpo outro corpo possuindo.
Tu não estás aqui, e, se estivesses,
talvez eu não ouvisse os sinos, nem o campo
e o mar, esta baía, arfando, lembrariam
aos meus olhos, que se perdem vendo-os,
outro verde e outro azul como amantes amando-se.
Tu não estás aqui, nem sabes _ oh divina! _
que os sinos tocam só porque
o campo verde e o mar azul somos nós dois.
Há quanto tempo esta paisagem, noutra terra,
foi eu estar lá e tu comigo, a minha mão cingindo
o teu ombro? E isso foi quando, em que dia,
em que manhã, como esta, de Setembro?
Onde estarás agora? que outro mar
bebe os teus olhos, contemplando-os?
Ou sou eu que te invento _ já morta _
no campo verde, e o mar beijando-o, uma baía
fálicamente avançando pela terra dentro?
_ Os sinos existem, e tocam; ouço-os!
O campo, o mar _ inventei-os, talvez...

Pedro Laureano Mendonça da Silveira 

1 Comments:

Blogger mariam [Maria Martins] said...

Manuel,
Não conhecia o autor, gostei da partilha e do poema.
Beijinhos :)
mariam

5:27 da tarde  

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