sábado, abril 06, 2019

PIETÀ

Vejo-te ainda, Mãe, de olhar parado,
Da pedra e da tristeza, no teu canto,
Comigo ao colo, morto e nu, gelado,
Embrulhado nas dobras do teu manto.
     
Sobre o golpe sem fundo do meu lado
Ia caindo o rio do teu pranto;
E o meu corpo pasmava, amortalhado,
De um rio amargo que adoçava tanto.
     
Depois, a noite de uma outra vida
eio descendo lenta, apetecida
Pela terra-polar de que me fiz;
     
Mas o teu pranto, pela noite além,
Seiva do mundo, ia caindo, Mãe,
Na sepultura fria da raiz.
     
                Miguel Torga  

2 Comments:

Blogger Graça Pires said...

Miguel Torga. É sempre maravilhoso lê-lo…
Uma boa semana.
Um beijo.

12:24 da tarde  
Blogger Guacira Maciel said...

Olá....
Belo poema; amo Miguel Torga.

Boa tarde, boa vida.

4:23 da tarde  

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