VIDA D'ONTEM
VIDA D'ONTEM
(VERSOS D'HOJE)
Tenho um milhão de desejos,
Extravagantes, diversos;
Entro no amor a dar beijos,
Tu entras a fazer versos.
. (D'uma carta de mulher)
Esbelta, graciosa a minha amante
Fugiu-me há dias; maldiçoada lei
Deste negro Destino penetrante
Dizem que goza as súplicas do Rei.
Agora já lá vai, já tudo esquece
Completando um desejo, outro desejo;
Maldita sorte a minha. Ai quem pudesse
Trazer-me triste a música d'um beijo.
Altas horas da noite, abro a janela,
Entra-me largo, um resplendor de lua
E eu leio a frase recatada e bela
Sobre o retrato: _Eu amanhã sou tua.
Era risonha, lânguida, fagueira,
Como um sorriso de ventura cheio;
_Veste-te d'homem, põe a caçadeira,
Mostra-me a curva original do seio.
Renego as crenças infantis que tinha,
Por ti eu tudo n'este amor resumo;
Volta de novo histérica andorinha,
Traz-me o cognac, os fósforos: _Eu fumo.
E vem gozar alma da minha gémea
(Deixa o fantasma d'esse amor bizarro)
Quero contigo rir, n'esta boémia
Fuma também, d'aqui, do meu cigarro.
Não voltas, não; mas, olha a primavera,
Como nos traz a sugestão da boda,
Fala-me ao menos, lúcida quimera,
N'uma algazarra alucinante e douda.
Conservo ainda, aqui, n'uma gaveta
Da minha mesa de trabalho, farta:
Uns pequeninos pés de violeta,
Que me mandaste dentro d'uma carta.
Diz-me se tens guardados ou dispersos,
(Temo o desdém que se te lê no rosto)
Os meus primeiros e amados versos
Feitos de risos, lágrimas, desgosto...
Lembras-te loura (?) d'uma noite há meses
Em que no trem íamos de corrida;
Quando me destes um milhão de vezes
Promessas, sonhos d'uma outra vida?...
Pois aqui tens a vida que me deste;
Pergunto sempre: mas porquê? Não sei.
Um estudante nada vale _ a peste...
Gozas agora as súplicas do Rei.
Eu bem sei que só bebe, quem tem sede;
Mas, o muito beber também faz mal
«Logo farei o que a senhora pede»
Ele te escreveu sobre um cartão postal.
.................................................................
Póde mostrar estes meus versos, quando
Sorrindo os ler a algum meu raro amigo;
Nada me importa, fico-me sonhando
Esse viver original antigo...
Santos Tavares
(VERSOS D'HOJE)
Tenho um milhão de desejos,
Extravagantes, diversos;
Entro no amor a dar beijos,
Tu entras a fazer versos.
. (D'uma carta de mulher)
Esbelta, graciosa a minha amante
Fugiu-me há dias; maldiçoada lei
Deste negro Destino penetrante
Dizem que goza as súplicas do Rei.
Agora já lá vai, já tudo esquece
Completando um desejo, outro desejo;
Maldita sorte a minha. Ai quem pudesse
Trazer-me triste a música d'um beijo.
Altas horas da noite, abro a janela,
Entra-me largo, um resplendor de lua
E eu leio a frase recatada e bela
Sobre o retrato: _Eu amanhã sou tua.
Era risonha, lânguida, fagueira,
Como um sorriso de ventura cheio;
_Veste-te d'homem, põe a caçadeira,
Mostra-me a curva original do seio.
Renego as crenças infantis que tinha,
Por ti eu tudo n'este amor resumo;
Volta de novo histérica andorinha,
Traz-me o cognac, os fósforos: _Eu fumo.
E vem gozar alma da minha gémea
(Deixa o fantasma d'esse amor bizarro)
Quero contigo rir, n'esta boémia
Fuma também, d'aqui, do meu cigarro.
Não voltas, não; mas, olha a primavera,
Como nos traz a sugestão da boda,
Fala-me ao menos, lúcida quimera,
N'uma algazarra alucinante e douda.
Conservo ainda, aqui, n'uma gaveta
Da minha mesa de trabalho, farta:
Uns pequeninos pés de violeta,
Que me mandaste dentro d'uma carta.
Diz-me se tens guardados ou dispersos,
(Temo o desdém que se te lê no rosto)
Os meus primeiros e amados versos
Feitos de risos, lágrimas, desgosto...
Lembras-te loura (?) d'uma noite há meses
Em que no trem íamos de corrida;
Quando me destes um milhão de vezes
Promessas, sonhos d'uma outra vida?...
Pois aqui tens a vida que me deste;
Pergunto sempre: mas porquê? Não sei.
Um estudante nada vale _ a peste...
Gozas agora as súplicas do Rei.
Eu bem sei que só bebe, quem tem sede;
Mas, o muito beber também faz mal
«Logo farei o que a senhora pede»
Ele te escreveu sobre um cartão postal.
.................................................................
Póde mostrar estes meus versos, quando
Sorrindo os ler a algum meu raro amigo;
Nada me importa, fico-me sonhando
Esse viver original antigo...
Santos Tavares
3 Comments:
Muito agradecido por teu comentário.
Sempre há que perseguir às amantes, creio eu.
não conhecia e adorei ler
beijo
Palavras arrastadas de saudades, tristes, mas bonitas.
:)
Fica bem Manuel. Saudações de Cádiz :)
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