A UM CAMARADA
Se me dás essa mão, calorosa e deformada
Aperto-a na minha, camarada.
Também, do meu lado, sou eu cativo,
E a tinta que me suja a mão é sangue vivo...
Também, na minha testa, há gotas de suor,
Gelado, o meu. Não sei se o teu pior.
Exausto, ao fim do dia, és uma simples sesta
Que dorme; e a insónia, a mim, mais meregela a testa.
Com pedra, cal, cimento, ferro, aço,
Povoas ou constóis cidades. O que eu faço
Não se vê tanto!, é longe; é lá no escuro
As teias do passado e do futuro.
Pedem-te os filhos pão, que após sofrer, lutar
Nem sempre terás tu para lhes dar.
E a mim _ canções, fervor, calor contra o seu frio,
E eu finjo encher a mão no coração vazio!
Teu nome, obscuro som, conhecem-no bem poucos,
Mas o meu, como os de outros que tais loucos,
Já sem sentido por demais ouvido,
Pregoam-nos os jornais; _ e é o dum desconhecido.
Talvez tu, auto escravo fixo à terra,
Nunca erguesses o olhar ao céu, e ao que ele encerra.
Eu ergo-o; mas, daquela imensidão composta,
Recai sobre mim num grito sem resposta.
Cumpre-se, em ambos nós, a velha praga... E em breve,
Sobre ti, sobre mim, nos seja a terra leve.
Deixa-os, a esses que odeiam, entre nós erguer a espada!
Dá-me a tua mão suja e honesta, camarada.
José Régio
Ref. 16001001
Aperto-a na minha, camarada.
Também, do meu lado, sou eu cativo,
E a tinta que me suja a mão é sangue vivo...
Também, na minha testa, há gotas de suor,
Gelado, o meu. Não sei se o teu pior.
Exausto, ao fim do dia, és uma simples sesta
Que dorme; e a insónia, a mim, mais meregela a testa.
Com pedra, cal, cimento, ferro, aço,
Povoas ou constóis cidades. O que eu faço
Não se vê tanto!, é longe; é lá no escuro
As teias do passado e do futuro.
Pedem-te os filhos pão, que após sofrer, lutar
Nem sempre terás tu para lhes dar.
E a mim _ canções, fervor, calor contra o seu frio,
E eu finjo encher a mão no coração vazio!
Teu nome, obscuro som, conhecem-no bem poucos,
Mas o meu, como os de outros que tais loucos,
Já sem sentido por demais ouvido,
Pregoam-nos os jornais; _ e é o dum desconhecido.
Talvez tu, auto escravo fixo à terra,
Nunca erguesses o olhar ao céu, e ao que ele encerra.
Eu ergo-o; mas, daquela imensidão composta,
Recai sobre mim num grito sem resposta.
Cumpre-se, em ambos nós, a velha praga... E em breve,
Sobre ti, sobre mim, nos seja a terra leve.
Deixa-os, a esses que odeiam, entre nós erguer a espada!
Dá-me a tua mão suja e honesta, camarada.
José Régio
Ref. 16001001
3 Comments:
Sou fã de José Régio. Foi bom encontrá-lo aqui.
Uma boa semana.
Beijos.
Ha sido un placer leer y comprender el sentido de casi la totalidad de las palabras. Un buen poema. Gracias por compartirlo. Franziska
Olá, estimado Manuel!
Que é feito de si? Espero que esteja bem e feliz.
Um poema apropriado ao dia em causa.
Beijos.
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