CAIR DO ALTO
E ficou com as mãos pousadas no teclado,
Esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
Supunha-se num baile; um conde apaixonado
Segredava-lhe: "Adoro-a!... Eu mato-me, marquesa!..."
Ah! se fosse fidalga!... Ao menos baronesa...
Que baile! que esplendor na noite de noivado!...
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.
Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
A mesma ideia __ o luxo. Ia comprar cautelas...
E imaginou de novo o conde enfurecido...
Um palácio, um coupé, esplêndidos cavalos...
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
E miou com ternura: "Anda aparar-me os calos."
Garcia Monteiro
1859 - 1913
Esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
Supunha-se num baile; um conde apaixonado
Segredava-lhe: "Adoro-a!... Eu mato-me, marquesa!..."
Ah! se fosse fidalga!... Ao menos baronesa...
Que baile! que esplendor na noite de noivado!...
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.
Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
A mesma ideia __ o luxo. Ia comprar cautelas...
E imaginou de novo o conde enfurecido...
Um palácio, um coupé, esplêndidos cavalos...
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
E miou com ternura: "Anda aparar-me os calos."
Garcia Monteiro
1859 - 1913
4 Comments:
Um soneto muito bom e a mostrar que a vida é quase sempre bem diferente dos sonhos.
Abraço.
Je viens te dire bonjour et j'espère que tu vas bien et que chez toi le soleil est là bonne journée
Bom receber a tua visita em meu blog.
Bom também apreciar a poesia por aqui.
Um abraço.
A vida nunca é o que se sonha...
Muito bom!
Grata pela visita.
Bom fim de semana.
Abraço
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