RETRATO
UM carro de assalto
carregado de flores
me chamou com ternura
o José Saramago.
Numa época torva
como é a nossa,
de honra espezinhada
e governos de nojo,
de bandoleiros vis
a comando dos ricos,
que nenhum crime trava,
nenhuma infâmia assusta,
mas também promissora,
exaltante e segura,
de abnegados e isentos
semeadores singelos
de abundância e de paz
ao serviço de todos,
radiante me sinto,
nunca desanimado,
de, como os mais pobres,
o que como o ganhar,
com o suor do rosto,
com o calor dos braços,
com a dor das ideias,
com o alor dos actos.
As mãos crispo, na fúria
de colher as estrelas,
que no espaço germinam
como fartas searas.
Os olhos fitos lanço,
f eitos pródigo vento,
por sobre os vastos campos,
por entre as nuvens altas.
Sorvo o aroma da terra,
sorvo o aroma do estrume,
sorvo o aroma da água,
sorvo o aroma do gado,
numa tentação quente
de perturbada febre,
sem deixar de ser eu,
sossegado e desperto.
Recordo, minucioso,
a confiança gasta,
no ermo do passado
tenebroso e abjecto,
em ímpetos fugazes,
apelos e protestos.
Um carro de assalto
carregado de flores
me chamou com ternura
o José Saramago.
Do coração me irrompem
irrequietas aves,
frutos estimulantes,
apaziguantes fontes,
numa cinfusão doce
de anseios saciados.
O menino que fui
outra vez em mim espreita,
no começo outra vez
de uma jornada longa,
sem egoísmo, sem glória,
sem atitudes vagas,
sem perversas reservas,
sem opiniões amargas.
Com o tempo perdi-me,
com o tempo me achei,
desatento de mim,
por aos outros atento,
numa decisão extrema,
luminosa e inteira,
do lado mais custoso
da dura barricada.
Ergo a voz que é um eco
de milhões de outras vozes.
Em milhões de outras iras
a minha ira ferve.
Por milhões de outros passos
o passo rude acerto.
Não há ódio tão forte
que em nós possa deter
a força da razão
das razões que nos movem.
Cala-te, desalento,
que a nossa pátria buscas
transformar em hostil,
transformar em deserto.
Já basta de mentira,
a verdade ocultando.
Já basta de injustiça,
de justiça fingindo.
Já basta de riqueza,
à miséria extorquida.
Soou em nós a hora
da decisão exacta.
Um carro de assalto
carregado de flores
me chamou com ternura
o José Saramago.
Armindo José Rodrigues
carregado de flores
me chamou com ternura
o José Saramago.
Numa época torva
como é a nossa,
de honra espezinhada
e governos de nojo,
de bandoleiros vis
a comando dos ricos,
que nenhum crime trava,
nenhuma infâmia assusta,
mas também promissora,
exaltante e segura,
de abnegados e isentos
semeadores singelos
de abundância e de paz
ao serviço de todos,
radiante me sinto,
nunca desanimado,
de, como os mais pobres,
o que como o ganhar,
com o suor do rosto,
com o calor dos braços,
com a dor das ideias,
com o alor dos actos.
As mãos crispo, na fúria
de colher as estrelas,
que no espaço germinam
como fartas searas.
Os olhos fitos lanço,
f eitos pródigo vento,
por sobre os vastos campos,
por entre as nuvens altas.
Sorvo o aroma da terra,
sorvo o aroma do estrume,
sorvo o aroma da água,
sorvo o aroma do gado,
numa tentação quente
de perturbada febre,
sem deixar de ser eu,
sossegado e desperto.
Recordo, minucioso,
a confiança gasta,
no ermo do passado
tenebroso e abjecto,
em ímpetos fugazes,
apelos e protestos.
Um carro de assalto
carregado de flores
me chamou com ternura
o José Saramago.
Do coração me irrompem
irrequietas aves,
frutos estimulantes,
apaziguantes fontes,
numa cinfusão doce
de anseios saciados.
O menino que fui
outra vez em mim espreita,
no começo outra vez
de uma jornada longa,
sem egoísmo, sem glória,
sem atitudes vagas,
sem perversas reservas,
sem opiniões amargas.
Com o tempo perdi-me,
com o tempo me achei,
desatento de mim,
por aos outros atento,
numa decisão extrema,
luminosa e inteira,
do lado mais custoso
da dura barricada.
Ergo a voz que é um eco
de milhões de outras vozes.
Em milhões de outras iras
a minha ira ferve.
Por milhões de outros passos
o passo rude acerto.
Não há ódio tão forte
que em nós possa deter
a força da razão
das razões que nos movem.
Cala-te, desalento,
que a nossa pátria buscas
transformar em hostil,
transformar em deserto.
Já basta de mentira,
a verdade ocultando.
Já basta de injustiça,
de justiça fingindo.
Já basta de riqueza,
à miséria extorquida.
Soou em nós a hora
da decisão exacta.
Um carro de assalto
carregado de flores
me chamou com ternura
o José Saramago.
Armindo José Rodrigues
13 Comments:
Que texto lindo... merecedor de uma interpretação mais minuciosa...
Palavras que gostaria de saber dizer...
Deixo-te o meu beijo...
Alice
Que maravilla... el traductor me confundió un poco, pero se lee fantástico!
Te dejo un fuerte abrazo, buen fin de semana!
¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨★
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¨¨¨¨¨\_________/¨¨¨@
Gostei particularmente do refrão. Melhor seria impossível.
M.
Vim retribuir a visita e desejar também Felicidades.
um beijinho
Gábi
A Gábi foi mais simpática. Obrigada pela visita, julgo que a 1ª. Felicidades também.
M.
(Olamariana)
Más o menos lo he podido seguir.
Me ha gustado.
Saludos
gracias por tu saludo
FELIZ NAVIDAD PARA TI TAMBIÉN!
Abrazo energético De Propósito
Um belo texto Manuel. Obrigada pela visita e desejo-te também um feliz Natal e um 2013 de muita prosperidade.
Bjks doces
Grata! És muito amável.
♥ Boas Festas ♥
Quiero que el espíritu
De la Navidad haga
para ti Manuel…
De cada deseo una flor
De cada lágrima una sonrisa
De cada dolor una estrella
De cada suspiro una melodía
De cada beso una esmeralda
Y de cada corazón una dulce morada…
Para continuar caminando
Por la vereda de la vida enamorada…
Un abrazo de esperanzas
Y un beso de añoranzas.
¡¡Feliz Navidad para ti y familia!!
Atte.
María Del Carmen
Manuel
Um texto infelizmente muito verdadeiro e actual.
Simplesmente soberbo.
Deixo um beijinho e agradeço a visita carinhosa.
É sempre um prazer.
Sonhadora
Olá, Manuel
Um poeta que eu não conhecia, assim fui ver quem é.Obrigada por trazê-lo ao nosso convívio e com um poema cheio de força e de verdade.
Um Bom Natal.
Abraço
Olinda
Olá, boa noite!
Hoje venho simplesmente desejar-lhe uma óptima Quadra Natalícia!
As minhas saudações.
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