DESTINO
Esta tristeza a resvalar desgraça...
__ Esta vida que cansa
Mas não passa... __
Esta herança
De andar pelo mundo a ser negaça...
Preso por cordéis à margem,
Preso por cordéis aos ramos,
Vou sonhando esta viagem
Que dura anos e anos
Presa na mesma miragem
Presa nos mesmos enganos...
Que outros voam! Eu finjo.
À mão travessa de altura
Que me sonhei
Não me atinjo!
Que ao menos eu pudesse
Erguer-me só à espessura
Duma tábua que eu pusesse
Entre mim e a terra 'scura
Onde o meu corpo apodrece!
Que o meu corpo
(São de erva os meus cabelos...)
Estiraçado ao comprido,
A levedar pesadelos,
Tem já bolor a cobri-lo
E rebenta em cogumelos...
Sou eu que à terra me agarro!
Os que passam alto atiram
Ou a ponta dum cigarro
Ou a mancha de um escarro
Sem que com isso me firam!
Por baixo da minha fronte
Os vermes fazem o ninho.
Sou-lhes o seu horizonte
Como a pedra de uma fonte.
Ou a pedra dum caminho...
Ninguem repara no vulto
Do meu corpo a imitar
Um cadáver insepulto
À espera que um estranho culto
O venha ali responsar...
Nada que o force a içar-se!
O braço pode erguer
Na terra a enraizar-se
Mostra no mundo o disfarce
Que a terra o esteja a prender!
Mas a terra não me chama,
Eu é que nela me afundo!
Se nela busquei a lama
Com os charcos me confundo!
Não tenho que me queixar...
Este grito
E' como uma bolha de ar
Que de mim se desprendesse
E que ficasse a boiar
Mas sem saber com que fito...
Ou talvez compreendesse
Que fosse um último olhar
De meus olhos... a tentar
Desvendar o Infinito...
Álvaro Leitão
__ Esta vida que cansa
Mas não passa... __
Esta herança
De andar pelo mundo a ser negaça...
Preso por cordéis à margem,
Preso por cordéis aos ramos,
Vou sonhando esta viagem
Que dura anos e anos
Presa na mesma miragem
Presa nos mesmos enganos...
Que outros voam! Eu finjo.
À mão travessa de altura
Que me sonhei
Não me atinjo!
Que ao menos eu pudesse
Erguer-me só à espessura
Duma tábua que eu pusesse
Entre mim e a terra 'scura
Onde o meu corpo apodrece!
Que o meu corpo
(São de erva os meus cabelos...)
Estiraçado ao comprido,
A levedar pesadelos,
Tem já bolor a cobri-lo
E rebenta em cogumelos...
Sou eu que à terra me agarro!
Os que passam alto atiram
Ou a ponta dum cigarro
Ou a mancha de um escarro
Sem que com isso me firam!
Por baixo da minha fronte
Os vermes fazem o ninho.
Sou-lhes o seu horizonte
Como a pedra de uma fonte.
Ou a pedra dum caminho...
Ninguem repara no vulto
Do meu corpo a imitar
Um cadáver insepulto
À espera que um estranho culto
O venha ali responsar...
Nada que o force a içar-se!
O braço pode erguer
Na terra a enraizar-se
Mostra no mundo o disfarce
Que a terra o esteja a prender!
Mas a terra não me chama,
Eu é que nela me afundo!
Se nela busquei a lama
Com os charcos me confundo!
Não tenho que me queixar...
Este grito
E' como uma bolha de ar
Que de mim se desprendesse
E que ficasse a boiar
Mas sem saber com que fito...
Ou talvez compreendesse
Que fosse um último olhar
De meus olhos... a tentar
Desvendar o Infinito...
Álvaro Leitão
2 Comments:
Ese destino que no siempre nos favorece. Abrazos.
Um pouco tétrico...
Boa semana.
Enviar um comentário
<< Home