O ROUXINOL
Meigo cantor da 
espessura
Chora, suspira, 
enternece,
Porque essa voz que é tão 
pura
Fala à alma e nunca 
esquece.
Tens segredos na 
vozita
Que eu não sei 
descortinar,
Ninguém, ninguém  os 
imita,
Ninguém sabe assim 
cantar.
Passa o vento 
segredando
Os seus queixums 
d'amor
E diz-te baixinho e 
brando
_ Adeus, ó triste cantor! 
_
E tu no denso das 
franças
Em tristes 
modulações,
Escarneces as 
esp'ranças
Dos ingénuos 
corações.
Como um orfão 
desvalido
Que teve prazer 
jamais
Passas a vida 
escondido
A desferir tristes 
ais.
Rouxinol, os teus 
queixumes
Não são mais tristes que os 
meus
Eu não te tenho 
ciúmes,
Sou triste, graças a 
Deus.
O meu coração 
desfeito,
Pelos prantos, pelos 
ais,
Soluça dentro do 
peito
Como tu seus 
madrigais.
Por irmã tenho a 
desgraça
E por amante o 
luar;
Sorri a brisa que 
passa
Mas eu só lhe sei 
chorar.
E meus prantos mais 
sentidos
Feitos de mágoas e 
dor
São por ti bem 
conhecidos
Oh desditoso 
cantor.
Ambos tristes, 
desgraçados,
Ambos gémeos na 
desdita
Não temos mais que 
cuidados
N'esta vida tão 
aflita.
Sigamos na romaria,
Da desgraça, ó 
rouxinol,
Eu chorarei todo o 
dia,
Tu de noite, ao pôr do 
sol.
Cypriano Nunes 
Barata
    


4 Comments:
Realmente una belleza, siempre es un placer leerte!
Te dejo un fuerte abrazo y te deseo un hermoso fin de semana!
Gosto deste jeito aparentemente simples de fazer poesia.
Um abraço e bom Domingo
Divulgando sempre a poesia pouco divulgada ! Obrigada !
Um abraço grande *
Ninguém merece mais, umas quadras tão belas e cheias de encanto senão este nosso cantor.
Gostei imenso.
Abarço
Enviar um comentário
<< Home