NÃO SE CHAMA POESIA
Mentiria se
dissesse
Que não tenho
companhia.
Mentiria.
Negaria as
madrugadas,
Os vultos nos meus
ouvidos,
As palavras nos meus
olhos,
O esplendor nos meus
sentidos.
A rosa que veio
alada
De uma inaudível
balada,
De um inaudível
planeta.
Mentiria se
explicasse
O espectro, o búzio, a
vertigem.
Vã segurança. O
abismo.
O arco de luz, o
sismo.
O raio Laser e a
seta
Mesmo no meio dos
olhos.
A cruz roída que
sou:
Os dois troncos sem
raiz,
Enterrada em verde
relva
Irmã de irmãos sem
país.
Unida em cordas de
esparto,
Vestida em espinhos de
sangue,
Sombria na luz do
quarto.
Dentro da terra,
volante.
Mentiria se
dissesse
Que não tenho
companhia.
Mentiria se
dissesse
Que se chama
Poesia.
Natércia Freire
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