terça-feira, março 19, 2013

NÃO SE CHAMA POESIA

Mentiria se dissesse
Que não tenho companhia.
Mentiria.
Negaria as madrugadas,
Os vultos nos meus ouvidos,
As palavras nos meus olhos,
O esplendor nos meus sentidos.
A rosa que veio alada
De uma inaudível balada,
De um inaudível planeta.
Mentiria se explicasse
O espectro, o búzio, a vertigem.
Vã segurança. O abismo.
O arco de luz, o sismo.
O raio Laser e a seta
Mesmo no meio dos olhos.
A cruz roída que sou:
Os dois troncos sem raiz,
Enterrada em verde relva
Irmã de irmãos sem país.
Unida em cordas de esparto,
Vestida em espinhos de sangue,
Sombria na luz do quarto.
Dentro da terra, volante.
Mentiria se dissesse
Que não tenho companhia.
Mentiria se dissesse
Que se chama Poesia.
Natércia Freire