terça-feira, fevereiro 06, 2007

A CRUZ DA ESTRADA


A CRUZ DA ESTRADA

Tu que passas, descobre-te. Ali dorme
O forte que morreu.
Alexandre Herculano

Invídeo quia quiescunt.
Lutero


Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz a dormir na solidão.

Que vale o ramo de alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.

É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insónia atroz;
Deixa-o dormir no leito de verdura
Que o Senhor, dentre as relvas, lhe compôs.

Não precisa de ti. O gaturamo
Geme por ele à tarde no sertão;
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.

Entre os braços da Cruz a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu;
Chora orvalhos a grama, que palpita,
Lhe acende o vaga lume o facho seu.

Quando à noite o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus...
Prende-se a voz na boca das cascatas
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.

Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
.
.
.
http://www.historiadobrasil.net/escravidao/
.
Recife, 22 de Junho de 1865
(«Os Escravos»)
Castro Alves (poeta brasileiro)

34 Comments:

Blogger Elsa Sequeira said...

Olá!

Gostei do poema!
beijinhos!
:))

1:11 da manhã  
Blogger poeta_silente said...

Interessante como, ainda hoje, lembramos com dor do sofrimento dos escravos. Creio que é porque também somos escravos de nós mesmos. Escravos dos nossos sentimentos e das lutas que temos que vivenciar, cosntantemente, entre a liberdade da nossa vontade e a liberdade dos nossos atos.
Não gosto da menção à morte como liberdade. Porque ela se faz aqui, mesmo que estejamos com as mãos cativas. Ela se faz dentro de nós.
Beijos
Miriam

1:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Só posso dizer: lindo!

1:28 da manhã  
Blogger Ana said...

De Alexandre Herculano a Castro Alves, a mesma reflexão.
É sempre nova a emoção de ler os poetas que aqui trazes.
Um beijo.

2:50 da manhã  
Blogger BETTINA PERRONI said...

Tienes excelente gusto para elegir poemas.

Manuel, somos esclavos de nosotros mismos... vivimos atrapados entre nuestros pensamientos, nuestras emociones...

Bello... la vida es un largo camino que hay que andar

5:12 da manhã  
Blogger Ana Abreu said...

Mto interassante este poema, a descrição da escravatura no Brasil...
Nos nossos dias, era suposto, haver abolição da escravatura, mas será que é essa a realidade?! Talvez de uma outra forma, mas a escravatura persiste.

Bjs

9:22 da manhã  
Blogger Espaços abertos.. said...

Olá meu amigo,como sempre encontro aqui poemas de qualidade,excelente escolha.
Julgo que ainda hoje somos prisioneiros ora do passado,ora do presente das "lutas" constantes...

Jinhus Zita

1:41 da tarde  
Blogger Menina Marota said...

Há muito que aqui não vinha e penalizo-me por isso. A boa Poesia está aqui demonstrada em cada poeta e poema que escolhes.

De Castro Alves, deixo-te um poema (que gosto muito)e nos mostra também, toda a sua força poética.

"Onde a paz se rejubila
Em louvor, auxílio e prece,
Onde a Bondade aparece
- Fonte de excelso caudal –
Ei-lo que surge espontâneo,
Sem vocação de tumulto,
Resplandece-se, Sol oculto,
Chama de Amor imortal.

Desde as eras mais remotas,
Lembra fúlgido pedaço
De Céu, colhido no Espaço,
Vibrando Beleza e Luz;
Refulgindo, trouxe ao mundo,
Na túnica dos milênios,
Heróis, Filósofos, Gênios,
Sócrates, César, Jesus!...

Guiando Nações e Povos,
Se o ódio ruge na Terra,
Ante a metralha da guerra,
Faz-se mais vivo clarão;
Torna-se mão que abençoa,
Inspira, afaga, redime,
Apaga as nódoas do crime,
Extingue a separação.

De ponta a ponta do Globo,
Se a dor ameaça o mundo,
É sempre apoio fecundo
Pela missão, bênção, afecto,
Com Deus, é a força gigante,
Que cria, ampara e garante
A Escola, o Jardim, o Luar...

Quando o mal sacode a juba,
Armando as clavas da treva,
É lâmpada que se eleva,
Fulgindo seja onde for;
E, alcançando-se humilde e nobre,
Filtra a Grandeza Divina,
Restaura, ergue e domina
Pela presença do Amor.

Santuário, templo, astro,
Em que esplendores se esconde?
Como vê-lo? Quando? Onde?
Mas isso é dado a qualquer;
Esse santo relicário
De ternura indefinida
Com que Deus sustenta a vida
É o Coração da Mulher"

(Poema de Castro Alves)

Um abraço e continuação de boa semana ;)

2:12 da tarde  
Blogger mymind said...

mto triste...os k os escravos n sofreram!
bjinhs

3:12 da tarde  
Blogger Maria said...

Gosto do Castro Alves
Fica bem

10:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ola Manuel,esta td bem?
Gostei muito deste tema, esta muito bonito
Beijinho*

10:44 da tarde  
Blogger mariabesuga said...

Caminheiro dos dias da vida, escravo da tua própria sensibilidade, aqui nos trazes sempre, pelas palavras, os sentidos, na poesia...

Um beijo

10:57 da tarde  
Blogger Escorpiana Explosiva said...

Muito lindo,e eu acho que poucas pessoas ainda conseguem se lembra dos sofrimentos que aqui os escravos passaram.Talvés essas poucas pessoas ainda que se lembram é por que tem coração ou até mesmo por serem escravas de sim mesmo.Eu tenho em mente que muitas vezes para algumas pessoas que foram escravas a morte para elas seria uma conquista de liberdade e para outras seria uma conquista não aproveitada.

Um bjs!

11:02 da tarde  
Blogger _lara_ said...

Muito bonito...boa escolha.

Continuação de uma boa semanita.
Um beijo*

2:51 da manhã  
Blogger Lia said...

Um poema tocante, como os que tenho lido por aqui.

Pena que só tenha conhecido a liberdade nessa hora, mas há quem nunca a conheça e para sempre permaneça escravo...

Beijinhos

10:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

ONTEM, dia 7 - um post especial num dia também especial - para minha Mãe. Convido-te.

A vida é uma passagem sim, feita de lugares certos e errados, palavras ditas e não ditas, correctas ou não, mas que com elas construimos essa vida e esse caminho da vida de um tempo que não volta mais...
fica apenas o sabor doce e/ou amargo de algumas palavras em momentos certos ou errados....

Beijos e abraços.

1:41 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

oi
E pensar que ainda existe escravidão, não só aqui no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Triste!
Obrigada pela visita!
Beijos

1:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um poema comovente.
Beijito.

2:06 da tarde  
Blogger Claudinha ੴ said...

O seu poema é lindo, sensível, conscientizador, homenageando quem sofreu as injustiças dos regimes e da prepotência. Um beijo!

6:30 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Excelente escolha

Na "escrita" reflexão de um passado - algemado ao futuro - ainda vivido no presente

Beijo com carinho
BomFsemana

7:47 da tarde  
Blogger Mensageira said...

A escravidao continua patente nos nossos tempos... somos escravos do tempo, do trabalho, da familia... e a vida passa sem que demos por isso, e quando damos.... ai sim, é tarde demais!

Beijo

7:57 da tarde  
Blogger NARNIA said...

Coragem verbal.

BJS

10:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É a eterna busca do homem pela liberdade...mas é impossível aprisionar idéias e ideais de liberdade e justiça. Pode demorar, mas toda forma de autoritarismo está fadada ao fracasso, porque o homem tem gravado dentro de si o amor à liberdade (Meu texto de 30/01 fala disso). Os poemas postados refletem tb este sentimento. Bom fds.

11:15 da tarde  
Blogger Páginas Soltas said...

Lindo Poema!!
Que sensibilidade para os encontrares!

Como sempre..fico " presa" na leitura das tuas pesquisas!

Beijos da
Maria

1:29 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Bom fim de semana :))

9:26 da manhã  
Blogger Casa Macuca "Conin" said...

besitos y pucha con mi ignorancia del idioma, odio no poderte leer como mereces.

1:23 da tarde  
Blogger _lara_ said...

Passei mm pa desejar bom fds...kiss****

8:49 da tarde  
Blogger Maria said...

Gosto imenso de Castro Alves " eu sou como a garça triste que vive á beira do rio, as orvalhadas da noite me fazem tremer de frio..."
navio negreiro e tantos outros,lindissimo.

Beijo

FF

9:01 da tarde  
Blogger Entre linhas said...

Passei por aqui para te desejar um óptimi fim de semana meu amigo.

Jinhus Zita

9:41 da tarde  
Blogger Dalva M. Ferreira said...

Eu AMO este poema! Quando eu era pequenininha, a professora nos fez decorá-lo para recitar no dia 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura aqui no Brasil. Muito lindo...

1:46 da tarde  
Blogger ÉDISON E TELMA said...

Maravilhoso poema do grande Antônio de Castro Alves, meu preferido poeta brasileiro!
Parabéns por manter viva a memória deste grande poeta!
Édison Coelho, Cabo Frio, RJ, BR

12:15 da tarde  
Blogger Erisvaldo said...

Eu li esse poema quando criança e lembro a té hoje e vejo como é importante lê poemas de grandes escritores.Sou professor e procuro está mostrando nossa riqueza poética para os alunos.

8:41 da tarde  
Blogger Unknown said...

Lembrei-me do meu tempo de estudante, na Escola Estadual "Bias Fortes", aquí, em Januária; quantas vezes declamei A cruz da Estrada!
Hoje, voltei no tempo, e as lembranças... a saudade... e, muitas coisas mais, tomaram conta de mim.

Beijos, Beth.

12:58 da tarde  
Blogger Unknown said...

Lembrei-me do meu tempo de estudante, na Escola Estadual "Bias Fortes", aquí, em Januária; quantas vezes declamei A cruz da Estrada!
Hoje, voltei no tempo, e as lembranças... a saudade... e, muitas coisas mais, tomaram conta de mim.

Beijos, Beth.

1:02 da tarde  

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