A CRUZ DA ESTRADA
A CRUZ DA ESTRADA
Tu que passas, descobre-te. Ali dorme
O forte que morreu.
Alexandre Herculano
Invídeo quia quiescunt.
Lutero
Caminheiro que passas pela estrada,
Seguindo pelo rumo do sertão,
Quando vires a cruz abandonada,
Deixa-a em paz a dormir na solidão.
Que vale o ramo de alecrim cheiroso
Que lhe atiras nos braços ao passar?
Vais espantar o bando buliçoso
Das borboletas, que lá vão pousar.
É de um escravo humilde sepultura,
Foi-lhe a vida o velar de insónia atroz;
Deixa-o dormir no leito de verdura
Que o Senhor, dentre as relvas, lhe compôs.
Não precisa de ti. O gaturamo
Geme por ele à tarde no sertão;
E a juriti, do taquaral no ramo,
Povoa, soluçando, a solidão.
Entre os braços da Cruz a parasita,
Num abraço de flores, se prendeu;
Chora orvalhos a grama, que palpita,
Lhe acende o vaga lume o facho seu.
Quando à noite o silêncio habita as matas,
A sepultura fala a sós com Deus...
Prende-se a voz na boca das cascatas
E as asas de ouro aos astros lá nos céus.
Caminheiro! do escravo desgraçado
O sono agora mesmo começou!
Não lhe toques no leito de noivado,
Há pouco a liberdade o desposou.
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http://www.historiadobrasil.net/escravidao/
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Recife, 22 de Junho de 1865
(«Os Escravos»)
Castro Alves (poeta brasileiro)
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Recife, 22 de Junho de 1865
(«Os Escravos»)
Castro Alves (poeta brasileiro)
34 Comments:
Olá!
Gostei do poema!
beijinhos!
:))
Interessante como, ainda hoje, lembramos com dor do sofrimento dos escravos. Creio que é porque também somos escravos de nós mesmos. Escravos dos nossos sentimentos e das lutas que temos que vivenciar, cosntantemente, entre a liberdade da nossa vontade e a liberdade dos nossos atos.
Não gosto da menção à morte como liberdade. Porque ela se faz aqui, mesmo que estejamos com as mãos cativas. Ela se faz dentro de nós.
Beijos
Miriam
Só posso dizer: lindo!
De Alexandre Herculano a Castro Alves, a mesma reflexão.
É sempre nova a emoção de ler os poetas que aqui trazes.
Um beijo.
Tienes excelente gusto para elegir poemas.
Manuel, somos esclavos de nosotros mismos... vivimos atrapados entre nuestros pensamientos, nuestras emociones...
Bello... la vida es un largo camino que hay que andar
Mto interassante este poema, a descrição da escravatura no Brasil...
Nos nossos dias, era suposto, haver abolição da escravatura, mas será que é essa a realidade?! Talvez de uma outra forma, mas a escravatura persiste.
Bjs
Olá meu amigo,como sempre encontro aqui poemas de qualidade,excelente escolha.
Julgo que ainda hoje somos prisioneiros ora do passado,ora do presente das "lutas" constantes...
Jinhus Zita
Há muito que aqui não vinha e penalizo-me por isso. A boa Poesia está aqui demonstrada em cada poeta e poema que escolhes.
De Castro Alves, deixo-te um poema (que gosto muito)e nos mostra também, toda a sua força poética.
"Onde a paz se rejubila
Em louvor, auxílio e prece,
Onde a Bondade aparece
- Fonte de excelso caudal –
Ei-lo que surge espontâneo,
Sem vocação de tumulto,
Resplandece-se, Sol oculto,
Chama de Amor imortal.
Desde as eras mais remotas,
Lembra fúlgido pedaço
De Céu, colhido no Espaço,
Vibrando Beleza e Luz;
Refulgindo, trouxe ao mundo,
Na túnica dos milênios,
Heróis, Filósofos, Gênios,
Sócrates, César, Jesus!...
Guiando Nações e Povos,
Se o ódio ruge na Terra,
Ante a metralha da guerra,
Faz-se mais vivo clarão;
Torna-se mão que abençoa,
Inspira, afaga, redime,
Apaga as nódoas do crime,
Extingue a separação.
De ponta a ponta do Globo,
Se a dor ameaça o mundo,
É sempre apoio fecundo
Pela missão, bênção, afecto,
Com Deus, é a força gigante,
Que cria, ampara e garante
A Escola, o Jardim, o Luar...
Quando o mal sacode a juba,
Armando as clavas da treva,
É lâmpada que se eleva,
Fulgindo seja onde for;
E, alcançando-se humilde e nobre,
Filtra a Grandeza Divina,
Restaura, ergue e domina
Pela presença do Amor.
Santuário, templo, astro,
Em que esplendores se esconde?
Como vê-lo? Quando? Onde?
Mas isso é dado a qualquer;
Esse santo relicário
De ternura indefinida
Com que Deus sustenta a vida
É o Coração da Mulher"
(Poema de Castro Alves)
Um abraço e continuação de boa semana ;)
mto triste...os k os escravos n sofreram!
bjinhs
Gosto do Castro Alves
Fica bem
Ola Manuel,esta td bem?
Gostei muito deste tema, esta muito bonito
Beijinho*
Caminheiro dos dias da vida, escravo da tua própria sensibilidade, aqui nos trazes sempre, pelas palavras, os sentidos, na poesia...
Um beijo
Muito lindo,e eu acho que poucas pessoas ainda conseguem se lembra dos sofrimentos que aqui os escravos passaram.Talvés essas poucas pessoas ainda que se lembram é por que tem coração ou até mesmo por serem escravas de sim mesmo.Eu tenho em mente que muitas vezes para algumas pessoas que foram escravas a morte para elas seria uma conquista de liberdade e para outras seria uma conquista não aproveitada.
Um bjs!
Muito bonito...boa escolha.
Continuação de uma boa semanita.
Um beijo*
Um poema tocante, como os que tenho lido por aqui.
Pena que só tenha conhecido a liberdade nessa hora, mas há quem nunca a conheça e para sempre permaneça escravo...
Beijinhos
ONTEM, dia 7 - um post especial num dia também especial - para minha Mãe. Convido-te.
A vida é uma passagem sim, feita de lugares certos e errados, palavras ditas e não ditas, correctas ou não, mas que com elas construimos essa vida e esse caminho da vida de um tempo que não volta mais...
fica apenas o sabor doce e/ou amargo de algumas palavras em momentos certos ou errados....
Beijos e abraços.
oi
E pensar que ainda existe escravidão, não só aqui no Brasil, mas em diversas partes do mundo. Triste!
Obrigada pela visita!
Beijos
Um poema comovente.
Beijito.
O seu poema é lindo, sensível, conscientizador, homenageando quem sofreu as injustiças dos regimes e da prepotência. Um beijo!
Excelente escolha
Na "escrita" reflexão de um passado - algemado ao futuro - ainda vivido no presente
Beijo com carinho
BomFsemana
A escravidao continua patente nos nossos tempos... somos escravos do tempo, do trabalho, da familia... e a vida passa sem que demos por isso, e quando damos.... ai sim, é tarde demais!
Beijo
Coragem verbal.
BJS
É a eterna busca do homem pela liberdade...mas é impossível aprisionar idéias e ideais de liberdade e justiça. Pode demorar, mas toda forma de autoritarismo está fadada ao fracasso, porque o homem tem gravado dentro de si o amor à liberdade (Meu texto de 30/01 fala disso). Os poemas postados refletem tb este sentimento. Bom fds.
Lindo Poema!!
Que sensibilidade para os encontrares!
Como sempre..fico " presa" na leitura das tuas pesquisas!
Beijos da
Maria
Bom fim de semana :))
besitos y pucha con mi ignorancia del idioma, odio no poderte leer como mereces.
Passei mm pa desejar bom fds...kiss****
Gosto imenso de Castro Alves " eu sou como a garça triste que vive á beira do rio, as orvalhadas da noite me fazem tremer de frio..."
navio negreiro e tantos outros,lindissimo.
Beijo
FF
Passei por aqui para te desejar um óptimi fim de semana meu amigo.
Jinhus Zita
Eu AMO este poema! Quando eu era pequenininha, a professora nos fez decorá-lo para recitar no dia 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura aqui no Brasil. Muito lindo...
Maravilhoso poema do grande Antônio de Castro Alves, meu preferido poeta brasileiro!
Parabéns por manter viva a memória deste grande poeta!
Édison Coelho, Cabo Frio, RJ, BR
Eu li esse poema quando criança e lembro a té hoje e vejo como é importante lê poemas de grandes escritores.Sou professor e procuro está mostrando nossa riqueza poética para os alunos.
Lembrei-me do meu tempo de estudante, na Escola Estadual "Bias Fortes", aquí, em Januária; quantas vezes declamei A cruz da Estrada!
Hoje, voltei no tempo, e as lembranças... a saudade... e, muitas coisas mais, tomaram conta de mim.
Beijos, Beth.
Lembrei-me do meu tempo de estudante, na Escola Estadual "Bias Fortes", aquí, em Januária; quantas vezes declamei A cruz da Estrada!
Hoje, voltei no tempo, e as lembranças... a saudade... e, muitas coisas mais, tomaram conta de mim.
Beijos, Beth.
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