terça-feira, maio 03, 2016

NA ERMIDA

_«Senhora, ouve o meu brado, escuta o meu lamento
E salva o meu marido, o pai dos meus filhinhos !»
     Responde sibilante o assoviar do vento,
     E das ondas o choque, em fundos torvelinhos.
    
_«Senhora do Refúgio, ó mãe do Livramento,
Traz-nos o nosso pão,  dá-nos os seus carinhos !»
     Responde da gaivota o guinchar agoirento
     Soam na lagem fria uns passos miudinhos...
    
Há três dias que reza e a mesma raiva expele
A voz do temporal. E a onda embravecida
Salpica irreverente a negra cruz da Ermida.
    
E a criança que chega, a face descomposta,
Diz-lhe a chorar: «Ó mãe não rezes mais por ele
Que o mar vem de lançá-lo agora mesmo à costa».
     
                 João Correia Ribeiro

6 comentários:

  1. Nostalgico e belo poema.
    Rezamos quando as tempestades da vida se abatem sobre nós, mas nem sempre as nossas preces são ouvidas.
    Um abraço
    Maria

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  2. Lindo e poderoso! bjs
    http://cocojeans.blogspot.pt

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  3. Olá:

    O mar leva, o mar traz...

    beijinho doce:)

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  4. Infelizmente continua a ser uma constante hoje em dia :(

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  5. Um poema maravilhosamente triste. Gostei muito pelo realismo e pelo sentimento.
    Beijos.

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