terça-feira, abril 01, 2014

CAIR DO ALTO

E ficou com as mãos pousadas no teclado,
Esquecida, a cismar num mundo de riqueza:
Supunha-se num baile; um conde apaixonado
Segredava-lhe: "Adoro-a!... Eu mato-me, marquesa!..."

Ah! se fosse fidalga!... Ao menos baronesa...
Que baile! que esplendor na noite de noivado!...
Estremeceu, nervosa, achou-se na pobreza,
E o piano soltou um grito arrepiado.

Absorvida outra vez, prendeu-se-lhe o sentido
A mesma ideia __ o luxo. Ia comprar cautelas...
E imaginou de novo o conde enfurecido...

Um palácio, um coupé, esplêndidos cavalos...
Nisto o marido entrou, de óculos e chinelas,
E miou com ternura: "Anda aparar-me os calos."
Garcia Monteiro
1859 - 1913

4 comentários:

  1. Um soneto muito bom e a mostrar que a vida é quase sempre bem diferente dos sonhos.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. Je viens te dire bonjour et j'espère que tu vas bien et que chez toi le soleil est là bonne journée

    ResponderEliminar
  3. Bom receber a tua visita em meu blog.
    Bom também apreciar a poesia por aqui.

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. A vida nunca é o que se sonha...
    Muito bom!

    Grata pela visita.
    Bom fim de semana.
    Abraço

    ResponderEliminar